Viver em uma família atípica é uma experiência repleta de amor e aprendizados, mas também marcada por desafios únicos. Além dos cuidados com uma criança neurodivergente ou com condição crônica, muitas famílias enfrentam o peso do estigma social. Este artigo aborda os impactos dessa realidade e oferece caminhos para lidar com preconceitos e promover inclusão.
O que é uma família atípica?
O termo “família atípica” se refere a núcleos familiares que convivem com condições de saúde ou desenvolvimento fora do padrão considerado típico. Entre elas estão o Transtorno do Espectro Autista (TEA), TDAH, deficiências físicas, sensoriais ou intelectuais, doenças crônicas e raras . Essas famílias enfrentam adaptações constantes, tanto na rotina doméstica quanto na interação com a sociedade, ao mesmo tempo em que exercem múltiplos papéis: cuidadores, defensores de direitos e agentes ativos na busca por inclusão e acessibilidade .
Desafios e impactos no dia a dia de famílias atípicas
A vivência em uma família atípica pode trazer sobrecarga emocional e física, especialmente para mães cuidadoras, que frequentemente relatam altos níveis de estresse e esgotamento . A rotina é marcada por terapias, consultas médicas, adaptação escolar, burocracias para acesso a direitos e dificuldades em conciliar demandas profissionais e pessoais.
Outro desafio frequente é o isolamento social. A falta de compreensão da sociedade leva muitas famílias a se afastarem de eventos, amizades e redes de apoio, o que impacta diretamente sua qualidade de vida. A dinâmica familiar também pode sofrer alterações, com aumento de tensões conjugais e redução do tempo para autocuidado, além do “luto invisível”, termo utilizado para descrever a dor que alguns pais sentem diante da diferença entre o filho idealizado e a realidade vivida .
O estigma social: um peso invisível para famílias atípicas
O estigma social é a desaprovação ou discriminação direcionada a características vistas como fora da norma cultural. No caso das famílias atípicas, isso se manifesta através de olhares julgadores, comentários preconceituosos, exclusão em ambientes escolares ou sociais e até autocrítica internalizada, gerando sentimentos de culpa, vergonha e baixa autoestima . Esse estigma não apenas prejudica a saúde mental dos cuidadores, mas também dificulta a criação de espaços de acolhimento e pertencimento para essas famílias.
Como lidar com o estigma social: dicas e orientações
A seguir, algumas orientações que podem ajudar :
- Buscar informação e compartilhar conhecimento: a educação tem o poder de transformar percepções equivocadas e abrir caminhos para uma convivência mais empática e inclusiva. Leituras como “Neurodiversidade: Descobrindo o Poder do Nosso Diferente” (Thomas Armstrong, 2021) e “O Cérebro Autista” (Temple Grandin, 2016) ajudam a desmistificar conceitos, levar informação de qualidade a escolas e redes sociais, e contribuir para a construção de ambientes mais compreensivos e acolhedores.
- Desenvolver estratégias de enfrentamento: ter respostas curtas, firmes e empáticas para comentários desinformados evita desgastes emocionais. Por exemplo: “Cada criança tem seu próprio ritmo, e seguimos orientações médicas e terapêuticas para apoiá-la.”
Além disso, manter rotinas estruturadas, alinhar expectativas com a escola e praticar técnicas de regulação emocional ajudam a lidar com situações estressantes.
- Fortalecer redes de apoio e priorizar o autocuidado: são atitudes complementares e fundamentais para o bem-estar das famílias atípicas. Participar de grupos e comunidades onde outras famílias compartilham vivências semelhantes promove acolhimento, troca de experiências e suporte emocional, ajudando a enfrentar momentos desafiadores (. Ao mesmo tempo, é comum que cuidadores priorizem exclusivamente as necessidades do neurodivergente, deixando de lado a própria saúde física e mental, o que pode levar ao esgotamento. Por isso, buscar momentos de descanso, lazer, meditação, prática de atividades físicas leves ou acompanhamento psicológico é essencial para manter o equilíbrio emocional e fortalecer a capacidade de cuidado .
- Proteção Legal: é importante lembrar que atos de preconceito e discriminação contra pessoas com deficiência ou condições neurodivergentes são proibidos por lei. A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) garante direitos e prevê penalidades para práticas discriminatórias. Situações que podem ser denunciadas incluem:
- Negativa de matrícula ou exclusão escolar sem justificativa válida.
- Negligência em oferecer adaptações ou acessibilidade previstas por lei.
- Ofensas verbais, bullying ou tratamento humilhante por parte de professores, colegas, vizinhos ou prestadores de serviço.
- Negativa de atendimento médico, hospitalar ou terapêutico devido à condição.
- Qualquer ato de discriminação ou exclusão social baseado na deficiência ou neurodivergência.
Os canais para denúncia incluem: Disque 100 (Direitos Humanos), Ministério Público Federal ou Estadual, Ouvidoria do MEC (para questões escolares), Delegacias especializadas, Conselho Tutelar (quando os direitos da criança são afetados) e Procon (em casos de discriminação em espaços comerciais).
Referências
- Portal do TEA. Pais atípicos: desafios e direitos. 2025.
- SciELO Brasil. Parentalidade ativista atípica na deficiência e cronicidade. 2022.
- Revista FT. Autismo: o olhar para mães e famílias atípicas. 2025.
- Soares et al. Estigma social e estigma internalizado: perspectivas de pessoas com transtorno mental. 2019.
- niversidade Estadual de Goiás. O luto invisível de mães atípicas. 2024.
- Editorarealize. Parentalidade bidirecional em famílias atípicas. 2023.