O cuidado com pessoas autistas exige mais do que protocolos clínicos: requer escuta, adaptação e respeito às singularidades que moldam suas experiências de saúde. Neste artigo, vamos explorar as principais vulnerabilidades enfrentadas por essa população e propor caminhos para uma atuação mais consciente e humanizada por parte dos profissionais da saúde.
Entendendo o TEA
Segundo o DSM-5, o Transtorno do Espectro do Autismo é caracterizado por:
- Prejuízo persistente na comunicação social e na interação recíproca;
- Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades;
- Sintomas presentes desde a infância que impactam o funcionamento diário.
Essas características influenciam diretamente a forma como a pessoa percebe o mundo, expressa sintomas e acessa o cuidado em saúde.
O que é vulnerabilidade em saúde?
Vulnerabilidade é a chance de exposição ao adoecimento, influenciada por fatores individuais, sociais e programáticos. No caso do TEA, essa vulnerabilidade se intensifica por barreiras comunicacionais, sensoriais e estruturais que dificultam o acesso, o diagnóstico e o tratamento adequado.
Principais vulnerabilidades na saúde de pessoas com TEA
- Dificuldade de comunicação Muitos autistas têm dificuldade em expressar sintomas físicos, como dor, cansaço ou fome. Isso pode atrasar diagnósticos e comprometer intervenções.
- Alterações sensoriais e motoras Desafios com propriocepção e interocepção podem dificultar a percepção de sinais corporais, como febre ou desconforto gástrico.
- Comorbidades psiquiátricas e clínicas É comum a presença de TDAH, TOC, epilepsia, transtornos de humor, entre outros, o que exige uma abordagem multidisciplinar.
- Doenças evitáveis com maior prevalência Obesidade, diabetes, hipertensão, anemia e depressão são mais frequentes entre pessoas autistas, muitas vezes por falta de acompanhamento contínuo e adaptado.
- Risco aumentado de suicídio e autolesão Estudos indicam que pessoas com TEA têm até 8 vezes mais chances de morrer por suicídio, o que reforça a necessidade de atenção à saúde mental.
- Alta taxa de internações e idas ao pronto-socorro Crises sensoriais, epilépticas, autolesão e agravamento de comorbidades são causas recorrentes, muitas vezes evitáveis com cuidado preventivo.
Como os profissionais de saúde podem atuar com mais sensibilidade?
- Escuta ativa e comunicação adaptada: utilizar recursos visuais, linguagem simples, pictogramas ou apoio de familiares para entender sintomas e orientar condutas.
- Capacitação sobre neurodivergência: buscar formação continuada sobre TEA e outras condições neurodivergentes para compreender melhor os desafios e potencialidades dessa população.
- Ambientes sensorialmente seguros: evitar luzes intensas, ruídos excessivos e aglomerações em consultórios e hospitais. Oferecer espaços de regulação sensorial quando possível.
- Protocolos flexíveis e personalizados: adaptar rotinas de atendimento, tempo de consulta e estratégias de avaliação conforme as necessidades individuais.
- Integração com redes de apoio: trabalhar em parceria com cuidadores, terapeutas, educadores e outros profissionais para garantir um cuidado contínuo e coerente.
- Validação da experiência do paciente evitar julgamentos e respeitar formas alternativas de comunicação, como ecolalia, gestos ou dispositivos de fala assistida.
- Promoção da saúde preventiva: investir em ações educativas, rastreios regulares e acompanhamento longitudinal para reduzir riscos e melhorar a qualidade de vida.