Francisco Paiva Jr.
CEO da Tismoo e editor-chefe da Revista Autismo

Mais uma vez, os números cresceram. A prevalência do transtorno do espectro do autismo (TEA) nos Estados Unidos é agora de 1 em cada 31 crianças de 8 anos (3,22% da população), segundo o mais recente relatório bienal divulgado pelo CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA). O estudo científico, divulgado oficialmente em 17 de abril de 2025, analisou dados de crianças nascidas em 2014, abrangendo 16 regiões dos Estados Unidos (5 a mais que nos anos anteriores), e apresentou uma prevalência superior à do estudo anterior, de 2023, que havia indicado 1 em cada 36 crianças (2,78%). Vale destacar ainda que “prevalência” não significa necessariamente que houve mais casos novos de TEA, mas sim que mais pessoas foram identificadas, diagnosticadas.

Com a nova prevalência, uma projeção equivalente para o Brasil indica que o país poderia ter atualmente cerca de 6,9 milhões de pessoas autistas, considerando a população brasileira atual estimada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 212,6 milhões de habitantes.

Homens x Mulheres

A relação entre o número de homens e mulheres com diagnóstico de autismo continua diminuindo. Neste estudo, o CDC apontou uma proporção de aproximadamente 3,4 homens para cada mulher diagnosticada com TEA, em comparação à proporção anterior de 3,8 para 1, indicando um avanço importante na identificação do autismo entre meninas, historicamente subdiagnosticadas.

Grupos étnicos

Outro destaque relevante do estudo foi a prevalência entre diferentes grupos étnicos. As prevalências registradas foram: asiáticos (3,82%), negros (3,66%), hispânicos (3,30%) e brancos (2,77%). O fato de pessoas brancas agora apresentarem uma prevalência menor não invalida a relação entre acesso e diagnóstico, mas reflete que a curva de diagnóstico precoce já se estabilizou para esse grupo, enquanto outras populações ainda estão numa curva ascendente. Segundo especialistas, o aumento constante na prevalência reflete especialmente o maior acesso à saúde e à informação sobre o transtorno do espectro do autismo (TEA). Um forte indício disso é que o crescimento nos diagnósticos tem ocorrido majoritariamente entre as populações negra e hispânica nos EUA. O CDC atribui, por exemplo, a alta prevalência na Califórnia (5,31%) a “uma política pública local, com centenas de pediatras treinados para triagem e encaminhamento precoce”. Outro fator relevante apontado no estudo é o acesso à cobertura de saúde para terapias voltadas a crianças autistas, como ocorre no estado da Pensilvânia, que tem políticas públicas específicas para tal.

‘Autismo de 20 anos atrás’ continua em 1%

Para o neurocientista brasileiro Alysson R. Muotri, professor na Universidade da Califórnia em San Diego (EUA), o novo número merece atenção especial. “Esse número dá uma falsa impressão de que o autismo é muito presente. É uma consequência da expansão que vimos nos últimos anos [após o DSM-5, em 2013, por exemplo]. O autismo (como conhecíamos antes, há 20 ou 30 anos) continua sendo por volta de 1% da população. Os autistas profundos, os primeiros que foram diagnosticados, na primeira definição de autismo, que têm uma dependência muito grande no dia a dia, continuam sendo tão raros como antes. O autismo, por si, agora é um guarda-chuva de diversas síndromes raras. A expansão do diagnóstico inclui outros casos mais leves de autismo, de indivíduos mais independentes, o que não condiz com a realidade clínica. Além disso, o que foi positivo no começo, com a expansão do diagnóstico, pesa ao contrário agora, fazendo o autismo parecer algo mais comum e, para alguns governos, pode ser considerado uma condição de saúde com menos importância, que não deveria ser investigada, prejudicando mais aqueles casos mais graves, que têm uma necessidade maior e mais emergencial”, afirmou Dr. Muotri, que também é cofundador da health tech Tismoo, no Brasil.

Para este estudo do CDC, a criança é considerada autista se atender aos critérios da CID-9 e CID-10, mesmo que não tenha diagnóstico oficial registrado. Vale considerar que, na prática, os médicos podem usar os critérios do DSM-5 (quinta e última versão do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais), da Associação Americana de Psiquiatria, porém, oficialmente, diante da metodologia “assinam o laudo” indicando a CID-9 ou CID-10, conforme explicou Lucelmo Lacerda, doutor em educação pela PUC-SP com pós-doutoramento no Departamento de Psicologia da UFSCar.

Declarações e controvérsias

O secretário de Saúde dos Estados Unidos, Robert F. Kennedy Jr., chamou os novos números de “epidemia de autismo” e afirmou que a condição atinge hoje “uma escala sem precedentes na história humana”. Em nota divulgada pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS), Kennedy declarou: “Um em cada 31 americanos nascidos em 2014 está incapacitado pelo autismo. Isso é quase cinco vezes mais do que quando o CDC começou a fazer esse levantamento, em crianças nascidas em 1992”. Segundo ele, a missão do governo agora é identificar as causas do que classificou como uma “epidemia de doenças crônicas da infância” — e estabeleceu um prazo até setembro deste ano (2025) para obter essa resposta.

As declarações de Kennedy Jr., no entanto, são recebidas com cautela por especialistas. Ele é conhecido por declarações controversas sobre saúde pública, especialmente sobre vacinas e autismo — vínculo que já foi amplamente desmentido pela ciência. O uso do termo “epidemia” para se referir ao autismo também é considerado inadequado pela comunidade científica, que aponta que o aumento da prevalência está fortemente relacionado à ampliação dos critérios diagnósticos, maior conscientização e melhor acesso a serviços de saúde.

Mais informações e dados completos podem ser obtidos no estudo oficial do CDC, neste link. E, a seguir, veja o gráfico comparando a prevalência dos estudos anteriores, desde primeiro, no ano 2000 (divulgado em 2004); e, mais abaixo, segue um resumo com os principais dados do estudo atual do CDC.

Prevalência de Autismo nos EUA 2025 - 1 em 31
Gráfico de Prevalência de Autismo nos EUA até 2025.

Dados gerais

  • Prevalência total: 1 em cada 31 crianças de 8 anos (3,22%) — era 1 em 36 (2,78%) na pesquisa anterior.
  • Ano de nascimento das crianças avaliadas: 2014 (portanto, com 8 anos de idade em 2022).
  • Ano da coleta de dados: 2022.
  • Divulgação do estudo: 16.abr.2025
  • Acesso ao estudo: 15.abr.2025 (o CDC envia o estudo com 1 dia de antecedência à Revista Autismo, para fazermos a versão em língua portuguesa da reportagem a respeito da prevalência nos EUA, com o compromisso de publicarmos somente no dia seguinte, na data e hora de embargo determinada)
  • Total de regiões avaliadas: 16 locais nos EUA (em 15 dos 50 estados norte-americanos) — são 5 regiões a mais que nos anos anteriores (como noticiamos em 2023).
  • 274.857 é o total de crianças de 8 anos residentes nas 16 áreas cobertas pela pesquisa.
  • 8.854 é número de crianças identificadas com TEA.
  • 3,2213114456% é o número da prevalência apontada pelo estudo, com precisão de 10 casas decimais.

Diferença por sexo

  • Homens: 5,06% das crianças de 8 anos do sexo masculino foram diagnosticadas com TEA.
  • Mulheres: 1,47%.
  • Proporção: 3,4 meninos para cada menina com diagnóstico (era 3,8 na pesquisa anterior).
  • Exceção: vale destacar que de todas as crianças do estudo, apenas 3 delas não tinham a informação de gênero nos seus registros e, portanto, não entraram na estatística relacionada a gênero.

Capacidade intelectual

  • 36,1% das crianças diagnosticadas com TEA têm QI acima de 85.
  • 39,6% têm deficiência intelectual (QI abaixo de 70).
  • 24,2% estão na faixa de QI limítrofe (entre 71 e 85).
  • A tendência é de queda nos casos com QI mais alto ao longo dos anos (em 2012 eram 42,1%). O estudo não difere autistas com QI normotípico (entre 85 e 115) e os que têm QI acima da média (maior que 115).

Diferença por etnia

  • Asiáticos: 3,82%
  • Negros: 3,66%
  • Hispânicos: 3,30%
  • Brancos: 2,77%
  • Crianças negras, asiáticas e hispânicas têm maior prevalência e também são mais propensas a ter deficiência intelectual associada:
    • Negros: 78,9% com deficiência intelectual ou limítrofe.
    • Asiáticos: 66,5%.
    • Hispânicos: 63,9%.
    • Brancos: 55,6%.

Variação e abrangência regional

  • O estudo é feito por meio da ADDM Network (Autism and Developmental Disabilities Monitoring Network).
  • As 16 áreas de vigilância representam diferentes estados e regiões dos EUA, mas não o país todo.
  • As áreas não representam a totalidade do país, mas foram escolhidas para garantir diversidade geográfica, étnica e socioeconômica. O único estado com 2 áreas é o Texas.
  • Prevalência média nacional: 3,22%.
  • Maior prevalência: Califórnia, com 5,31% (1 em cada 18,9 crianças). — vale destacar que o CDC atribui a alta prevalência na Califórnia a uma política pública local, com centenas de pediatras treinados para triagem e encaminhamento precoce.
  • Menor prevalência: Texas (condado de Laredo), com 0,97% (1 em cada 103,3 crianças).
  • Veja, na tabela a seguir, que os números mostram uma variação significativa de prevalência entre as regiões — com a Califórnia muito acima da média nacional; e Texas (região de Laredo), muito abaixo. Isso reforça o impacto de políticas públicas locais, acesso a serviços e práticas de diagnóstico na identificação do autismo em cada região.
Estado (região) Prevalência (%)Prevalência (1 em x)
California5.3118.9
Pennsylvania4.7421.1
Wisconsin3.8426.1
Minnesota3.5528.1
New Jersey3.429.4
Tennessee3.429.5
Georgia3.2630.6
Missouri3.2131.2
Arizona3.1331.9
Arkansas2.9833.5
Utah2.737.1
Puerto Rico2.6437.9
Maryland2.6338.0
Texas (Austin)1.9551.2
Indiana1.8354.6
Texas (Laredo) 0.97103.3
Mapa do CDC com as 16 regiões participantes do estudo de 2025.

Metodologia do estudo

  • Fontes de dados
    • Revisão de registros médicos e educacionais de crianças com sinais ou histórico de autismo.
    • Os dados incluem avaliações de desenvolvimento, diagnósticos clínicos, relatórios escolares e testes de QI.
    • Os registros são revisados mesmo se a criança não tiver diagnóstico formal de autismo — especialistas da equipe do CDC avaliam os critérios.
    • Estados x Regiões: o CDC, através da ADDM Network, não analisa o estado inteiro, mas sim áreas geográficas de vigilância, selecionadas dentro dos estados participantes. Essas áreas podem ser:
      • um condado; 
      • um conjunto de condados; 
      • um distrito escolar; 
      • uma região metropolitana; 
      • ou até uma área definida por critérios técnicos (ex: sistema de saúde). 
  • Critérios diagnósticos utilizados
    • Baseados na CID-9 e CID-10, ao invés do DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição).
    • A criança é considerada autista no estudo se atender aos critérios da CID-9 e CID-10, mesmo que não tenha diagnóstico oficial registrado. Vale considerar que, na prática, os médicos podem usar os critérios do DSM-5 (quinta e última versão do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais), porém, oficialmente, diante da metodologia “assinam o laudo” indicando a CID-9 ou CID-10, conforme explicou Lucelmo Lacerda, doutor em educação pela PUC-SP com pós-doutoramento no Departamento de Psicologia da UFSCar.
    • Foram consideradas:
      • 1. Avaliação Desenvolvimental multiprofissional;
      • 2. Avaliação escolar elegível ao Plano Educacional Individualizado;
      • 3. Diagnóstico formal baseado na CID.
  • Avaliação de capacidade intelectual (QI)
    • Quando disponíveis, os dados de testes de QI são incluídos.
    • O QI é classificado em três faixas:
      • Menor que 70: deficiência intelectual
      • Entre 71 e 85: limítrofe
      • Maior que 85: na média ou acima da média (inclui normotípicos, QI acima da média e superdotados juntos)
  • Equipe técnica
    • Revisores treinados (geralmente profissionais da saúde ou psicologia) analisam os registros.
    • Supervisores clínicos verificam casos duvidosos ou incompletos.
  • Frequência de publicação
    • Os estudos da ADDM são publicados a cada dois anos.
    • Refletem dados de 2 a 3 anos antes da publicação, devido ao tempo necessário para coleta, revisão, consolidação e análise.
  • Privacidade
    • Todos os dados utilizados são anonimizados.
    • Assegura-se que nenhuma criança possa ser identificada diretamente nos dados analisados.

Crianças de 4 anos (nascidas em 2018)

  • Prevalência: 1 em 34 (2,93%).
  • 260.912 é o total de crianças de 4 anos residentes nas 16 áreas cobertas pela pesquisa.
  • 7.657 crianças de 4 anos tiveram diagnóstico de TEA.
  • 2,9347059545% é a prevalência calculada com precisão de 10 casas decimais.
  • Maior prevalência: Califórnia, 1 em 16,5 (6,06%).
  • Menor prevalência: Indiana, 1 em 77,6 (1,29%).
  • Por que o estudo também traz dados de crianças de 4 anos?
    • Monitorar detecção precoce
      • Avalia se os sistemas de saúde e educação estão identificando sinais de autismo nos primeiros anos de vida.
      • Quanto mais cedo o diagnóstico, melhores as chances de intervenção eficaz.
    • Comparar com os dados de 8 anos
      • As crianças de 8 anos refletem o diagnóstico “consolidado” — muitas delas só foram diagnosticadas tardiamente.
      • A comparação permite ver se o diagnóstico está acontecendo mais cedo do que nos anos anteriores.
    • Avaliar o impacto de políticas e campanhas de triagem
      • Permite avaliar o sucesso (ou não) de campanhas de conscientização e programas de rastreio precoce.
    • Apoiar planejamento de serviços
      • Autoridades públicas e escolas precisam saber com quantas crianças pequenas já diagnosticadas devem contar nos próximos anos escolares.

CONTEÚDO EXTRA

(Atualizado em 20/04/2025, 16h29, com mais dados de crianças de 4 anos)

(Publicado originalmente na Revista Autismo / Canal Autismo)

Nesse mês de Abril, comemoramos uma data muito importante para as famílias e pessoas presentes na luta por direito e igualdade para neurodivergentes. O dia 2 de Abril (Dia Mundial da Conscientização do Autismo) é um marco para a causa, trazendo à tona debates e mais informações com o objetivo de reduzir estigmas e preconceitos. Sendo assim, em um mês tão importante, não poderíamos deixar de falar brevemente sobre a longa história da evolução e diagnóstico de autismo como entendemos hoje. 

Os Primeiros Registros: A Observação de Comportamentos

Embora o conceito de autismo só tenha sido formalmente reconhecido no século XX, comportamentos que hoje associamos ao transtorno já eram observados há séculos. Porém, foi apenas no início dos anos 1940 que o autismo passou a ser descrito de maneira mais sistemática. Em 1943, o psiquiatra Leo Kanner publicou um estudo que apresentou o termo “autismo infantil precoce”. Kanner identificou 11 crianças que exibiam padrões de comportamento incomuns, como dificuldade em interagir com outras pessoas e comunicação verbal limitada. Ele chamou a atenção para a presença de uma “preferência pela solidão”, caracterizando a condição como um transtorno.

A Evolução do Diagnóstico: Da Exclusão à Inclusão

Nos primeiros anos após a descrição do autismo por Kanner, muitos profissionais de saúde mental tratavam o autismo como um distúrbio raríssimo e, em alguns casos, associavam-no erroneamente à negligência materna. O termo “mãe geladeira”, popularizado na década de 1960, atribuía o desenvolvimento do autismo à falta de afeto materno, o que se provou falso. Foi apenas nas décadas seguintes, com os avanços em estudos neurológicos e psicossociais, que a compreensão do autismo começou a mudar.

Na década de 1980, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), utilizado por profissionais de saúde mental em todo o mundo como referência para diagnósticos clínicos como o de TEA, reconheceu o autismo como um transtorno específico. Inicialmente, o DSM-III dividia o autismo em várias categorias, mas, com o tempo, foi se tornando claro que o autismo deveria ser considerado como um espectro, refletindo a diversidade de manifestações da condição.

O Autismo no Século XXI: Avanços no Diagnóstico e Tratamento

No início do século XXI, o diagnóstico do autismo passou por importantes transformações. O DSM-IV, lançado em 1994, já fazia referência ao Transtorno do Espectro Autista (TEA), englobando o autismo clássico, a Síndrome de Asperger e outros transtornos relacionados. Essa mudança refletiu a compreensão crescente de que o autismo não era um distúrbio único, mas sim um conjunto de condições que variam em gravidade e apresentação. Importante ressaltar que o termo asperger caiu em desuso com os avanços da compreensão acerca do autismo. 

Além disso, os avanços em neurociência e genética  para um diagnóstico mais preciso. A identificação precoce do autismo, muitas vezes ainda nos primeiros anos de vida, possibilitou intervenções mais eficazes, o que pode fazer uma diferença significativa no desenvolvimento das crianças.

Desafios e Expectativas: O Futuro do Diagnóstico do Autismo

Hoje, o diagnóstico do autismo continua a ser uma área de intensa pesquisa. Apesar de os critérios diagnósticos estarem mais claros, muitos aspectos do transtorno ainda são pouco compreendidos. A variabilidade de manifestações do autismo e a sobreposição com outros transtornos do desenvolvimento tornam o diagnóstico um desafio. Contudo, o maior progresso reside na ampliação do conceito de “espectro”, reconhecendo a diversidade de indivíduos com autismo e suas diferentes necessidades.

Referências: 

Marcos Históricos – Autismo e Realidade Acesso em 4 de Abril de 2025.

  • AUTISMO E REALIDADE. O que é o Autismo? Marcos Históricos. Disponível em:

https://autismoerealidade.org.br/o-que-e-o-autismo/marcos-historicos/ Acesso em 4 de Abril de 2025.

Temas relacionados à saúde mental e neurodivergências vêm ganhando cada vez mais espaço, dando oportunidade para discutirmos sobre questões práticas a respeito da inclusão de pessoas atípicas na sociedade, assim como de suas famílias. No entanto, ainda esbarramos em desafios como a desinformação e o preconceito que, por sua vez, fortalecem a exclusão dessas famílias dos meios sociais. 

Famílias com pessoas autistas frequentemente enfrentam barreiras, como isolamento e julgamentos precipitados, frutos da falta de informação e de uma visão social limitada sobre o TEA. Esse cenário dificulta a busca por apoio especializado. Estudos e relatos de profissionais da saúde e educação indicam que, quando as famílias são integradas em redes de suporte – por meio de grupos de convivência e orientações apropriadas –, os impactos negativos são atenuados, promovendo uma melhora significativa na qualidade de vida de todos os envolvidos.

A implementação de políticas públicas inclusivas é um dos caminhos mais eficazes para transformar essa realidade. Programas de capacitação para profissionais, campanhas de conscientização e, sobretudo, a participação ativa da família na elaboração de planos educativos e terapêuticos são cruciais. Essas ações colaboram para atender integralmente às necessidades específicas dos autistas, permitindo que o ambiente escolar, social e familiar se ajuste às particularidades de cada indivíduo.

O papel dessas estratégias sociais é decisivo para consolidar uma cultura de inclusão. Em síntese, incluir as famílias de pessoas autistas vai além de oferecer suporte técnico ou serviços especializados – trata-se de reconhecer e valorizar a singularidade de cada indivíduo. Ao promover ações inclusivas e integrar a família em todas as esferas da vida social, contribuímos para a construção de espaços mais justos, empáticos e acessíveis.

Referências:

O dia 2 de abril é conhecido como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo desde 2007, quando a ONU estabeleceu a data. Desde então, ele é celebrado mundialmente trazendo temas relevantes para a comunidade com a intenção de dar visibilidade a causa, e dessa forma conscientizar as pessoas a respeito das dificuldades enfrentadas dentro da comunidade autista.

Informação gera empatia, empatia gera respeito.

Neste ano de 2025 o tema da campanha no Brasil é “Informação gera empatia, empatia gera respeito” — com a hashtag #respectro. Com esse tema, busca-se enfatizar a importância de disseminar informações corretas e completas sobre o autismo, de modo a promover a empatia e, consequentemente, o respeito às pessoas no espectro autista. A conscientização é uma ferramenta poderosa para quebrar barreiras, combater o preconceito e garantir que todos tenham acesso a uma vida plena e digna.

Ao longo deste dia, da semana e até mesmo em todo o mês de abril, diversas atividades e eventos são organizados ao redor do mundo para promover o conhecimento e a inclusão das pessoas autistas. Iluminar monumentos e edifícios com a cor azul é uma das formas de chamar a atenção para a causa.

Cada pequeno gesto de apoio e conscientização contribui para construir uma sociedade mais inclusiva e acolhedora. 

Referências: 

Sabemos como o sono de qualidade é essencial para a nossa saúde. Durante o sono, o corpo fortalece o sistema imunológico, consolida a memória, libera hormônios e recupera as células. Frequentemente, ter noites de sono de baixa qualidade pode nos levar a ficar mais irritados, ansiosos e mais propensos a desenvolver problemas psíquicos, além de causar uma piora significativa na saúde mental e no comportamento.

Para pessoas autistas, os distúrbios do sono estão entre as queixas mais frequentes. Sabe-se que, em geral, pessoas neuroatípicas tendem a apresentar maiores dificuldades em adormecer e manter-se dormindo. Os problemas mais comuns relatados estão ligados à desregulação dos horários e insônia. Isso também se deve ao fato de que, dentro do espectro, frequentemente há comorbidades (questões de saúde relacionadas ao autismo) que influenciam a qualidade do sono, além de questões relacionadas à sensibilidade sensorial.

Problemas comuns relatados: 

  • Problemas gastrointestinais: dificuldades digestivas que podem afetar o conforto e a qualidade do sono.
  • Sensibilidade sensorial: desconforto com o tecido do pijama, intolerância a luzes fortes, sons ambientes e até mesmo a textura dos lençois.
  • Dificuldades em adormecer: muitos autistas têm dificuldades para iniciar o sono devido a uma desregulação do ritmo circadiano ou problemas na produção de melatonina.
  • Dificuldade em manter-se dormindo: acordar frequentemente durante a noite ou ter um sono fragmentado é um problema comum, que pode ser agravado por sensibilidades sensoriais ou comorbidades.
  • Desregulação dos horários de sono: horários de sono irregulares e padrões de sono-vigília desorganizados são frequentes em pessoas autistas, dificultando o estabelecimento de uma rotina consistente.
  • Ansiedade e estresse: sentimentos de ansiedade e estresse podem afetar a capacidade de relaxar e adormecer, além de causar despertares noturnos.
  • Problemas de comportamento noturno: Algumas pessoas autistas podem resistir a ir para a cama, procrastinar ou precisar da presença de um dos pais ou cuidadores até adormecer.

Como melhorar a qualidade do sono? 

Em alguns casos conseguimos melhorar a qualidade do sono fazendo alguns ajustes na rotina e no ambiente doméstico, como por exemplo: 

  • Reduzir o movimento da casa perto da hora de dormir; 
  • Diminuir o volume da televisão e de outros aparelhos;
  • Definir horários regulares para dormir; 
  • Evitar refeições pesadas e alimentos gordurosos perto da hora de dormir; 
  • Limitar e evitar bebidas com cafeína ou açúcar; 

Essas estratégias podem ajudar a criar uma rotina diária favorável para uma boa noite de sono, lembrando que elas não substituem o tratamento com profissionais de saúde como especialistas em sono e terapeutas. 

Referências:

Casa Adaptada: Dicas para um Ambiente Amigável

Realizar algumas mudanças em casa pode ajudar a criar um ambiente mais acolhedor e confortável para todos, nesse texto separamos algumas dicas de adaptações no ambiente doméstico especialmente pensadas para famílias atípicas. 

Cantinho da calma

Esse espaço é especificamente pensado para o relaxamento, sendo assim, ele conta com poucos estímulos visuais e sonoros. Use cores suaves e neutras, adicione objetos confortáveis como almofadas, cobertores ou mantas e evite colocar brinquedos e outros objetos que produzam ruídos altos ou luzes. Ter esse espaço pode ajudar em momentos de sobrecarga sensorial, em crises onde precisamos diminuir os estímulos ambientais ou até mesmo na ajudar na rotina diurna. 

Organização e simplicidade

Manter um ambiente organizado e simples é essencial para criar um espaço que seja ao mesmo tempo funcional e confortável para pessoas autistas. A desordem e o excesso de estímulos podem causar ansiedade e estresse no dia a dia. 

Tentar manter o ambiente organizado não só reduz a ansiedade, como também promove um espaço mais seguro e previsível, criando um ambiente tranquilo para todos. 

Redução de estímulos e escolha de materiais confortáveis

Sabemos que muitos autistas lidam com a dificuldade de processar informações sensoriais, tornando o ato de estar em ambientes com muitos estímulos uma tarefa estressante e desagradável. Sendo assim, algumas adaptações simples podem melhorar bastante o dia a dia, como escolher materiais mais confortáveis ao toque, diminuir o uso constante de aparelhos sonoros diariamente, como caixas de som, televisões ou brinquedos barulhentos. 

Pensar nessas estratégias podem ser úteis não apenas para a pessoa no espectro como também para todas as pessoas presentes na casa. Se preocupar em criar um ambiente mais inclusivo é um ato de carinho que transforma a casa em um lar mais confortável para todos.

Referências

Embora os desafios enfrentados por indivíduos com autismo tenham ganhado cada vez mais visibilidade, menos atenção é dada ao impacto que o diagnóstico pode ter na vida pessoal e profissional de seus pais. A necessidade de equilibrar as demandas do trabalho com os cuidados especiais que uma pessoa autista requer faz com que os cuidadores tenham que lidar com impactos significativos em suas vidas profissionais, saúde mental e na dinâmica familiar. 

Impactos emocionais

Um dos grandes desafios enfrentados pelas famílias e responsáveis de pessoas atípicas é a sobrecarga física e mental. Isso ocorre devido ao acúmulo de funções e o isolamento social enfrentado pelos cuidadores. Muitos abdicam de seus próprios cuidados e do lazer a fim de conciliar as tarefas de casa, a rotina dos demais familiares, terapias, cuidados diários e carreira profissional. 

Esse cenário também contribui para outra questão enfrentada por essas famílias: o isolamento. Ele acontece em decorrência da sobrecarga vivida por essas famílias. Devido a alta cobrança externa, vinda de outros familiares e a alta demanda das tarefas, onde se veem sem possibilidades de cultivar o seu meio socia

Impactos na vida profissional

Os pais frequentemente precisam reorganizar suas vidas diárias após o diagnóstico de autismo dos filhos. Isso inclui adaptar seus horários de trabalho para atender às necessidades das crianças, como terapias e consultas médicas. Muitas vezes, os pais têm que equilibrar as demandas profissionais com as responsabilidades de cuidar dos filhos, o que pode resultar em uma redução do tempo disponível para suas próprias atividades ocupacionais.

Sendo assim, a carreira dos pais pode ser afetada, já que muitas vezes eles precisam priorizar as necessidades dos filhos em detrimento do crescimento profissional. Isso pode incluir a escolha de empregos menos exigentes ou a redução da carga horária de trabalho, o que pode afetar a progressão na carreira e a segurança financeira da família.

Estratégias de apoio

As estratégias de enfrentamento servem como ferramentas para que possamos evitar o adoecimento psíquico, uma vez que ele é resultado da sobrecarga emocional e do isolamento. 

  • Grupos de apoio: Participar de grupos de apoio para pais de crianças autistas pode ser uma fonte valiosa de suporte emocional e troca de experiências. Esses grupos podem oferecer apoio, estratégias e uma sensação de pertencimento;
  • Atividades de lazer em família: Caminhar em um parque de sua cidade ou visitar centros de atividades comunitários, como os centros culturais e teatros públicos. Atualmente, o Itaú e Banco do Brasil oferecem centros com exposições e atividades gratuitas espalhados pelas cidades, é possível verificar a localidade através dos sites. Outra alternativa é procurar pelos centros de atividades do SESC que também oferecem diversas atividades gratuitas ou com valor simbólico.
  • Tempo para Si Mesmos: Encorajar momentos de autocuidado é fundamental. Atividades simples como ler um livro, praticar exercícios físicos ou meditar podem ajudar a reduzir o estresse e a melhorar o bem-estar geral.

Referências: 

A arteterapia é uma abordagem terapêutica que utiliza a expressão artística como meio de comunicação e transformação emocional. No contexto do autismo, a arteterapia tem se mostrado uma ferramenta eficaz para auxiliar no desenvolvimento das habilidades sociais, emocionais e cognitivas das pessoas com autismo. Veja abaixo alguns benefícios: 

  • Estimulação sensorial: Através de diferentes formas de expressão artística, como pintura, desenho, escultura e música, é possível proporcionar uma estimulação sensorial adequada e adaptada às necessidades individuais.
  • Desenvolvimento da comunicação: A arteterapia oferece uma forma alternativa de comunicação, permitindo que as pessoas com autismo expressem suas emoções, pensamentos e experiências de forma não verbal.
  • Estímulo da criatividade: As atividades artísticas encorajam a exploração da imaginação e a expressão da individualidade, ajudando a desenvolver a autoestima e a confiança.
  • Desenvolvimento das habilidades motoras: Através de atividades como pintar, desenhar ou modelar, as pessoas com autismo podem aprimorar sua coordenação motora fina e grossa.
  • Promoção da expressão emocional: A arteterapia oferece um espaço seguro para a expressão emocional, o que pode ser especialmente útil para aqueles que têm dificuldades em identificar e verbalizar suas emoções.
  • Estimulação da interação social: Durante as sessões de arteterapia, as pessoas com autismo têm a oportunidade de compartilhar suas criações artísticas e desenvolver habilidades de trabalho em equipe.

Referências: 

A tecnologia vem avançando cada dia mais e pode ser uma grande aliada no dia a dia de pessoas autistas, com ela podemos trabalhar com diversas possibilidades, desde jogos para ajudar no desenvolvimento de habilidades específicas até aplicativos e inteligências artificiais que podem ajudar a organizar o dia a dia e conseguir orientações feitas para pessoas autistas e seus cuidadores. 

Separamos aqui algumas dessas tecnologias.

Conheça o Genioo:

O Genioo é uma inteligência artificial criada pela Tismoo e lançada no dia 2 de abril de 2024, trata-se de um chat conversacional gratuito que oferece informações seguras sobre o autismo e outras neurodivergências. Além de responder a dúvidas sobre o transtorno do espectro do autismo (TEA) e condições relacionadas, o Genioo também possui assistentes dedicados a áreas específicas, como educação, medicina, enfermagem, nutrição e psicologia. 

Já outra funcionalidade presente no aplicativo da Tismoo, são os perfis de saúde de cada pessoa, eles ajudam a organizar resultados de exames e outras informações em apenas um lugar, facilitando nas rotinas de tratamento, sendo possível encontrar as informações necessárias em um só local. 

Comunicação alternativa:

Os aplicativos de comunicação alternativa são ferramentas importantes no desenvolvimento e interação de pessoas neurotípicas não verbais, isso porque eles facilitam o uso de outras ferramentas presentes na comunicação como o uso de pictogramas, palavras, imagens e sons. O uso dessas ferramentas podem estimular a comunicação, interação social de pessoas não verbais e a inclusão, uma vez que são ferramentas para que elas expressem seus sentimentos e vontades. 

Aplicativos que trabalham com essa proposta: 

  • Matraquinha: aplicativo de comunicação alternativa que permite a comunicação através de figuras e cartões; 
  • PECS IV+: desenvolvido pela Pyramid Educational Consultants, este aplicativo é uma solução de comunicação digital que permite criar páginas PECS digitais personalizadas. ele é projetado para facilitar a transição do PECS tradicional para a comunicação aumentativa e alternativa de alta tecnologia;
  • Prologue2Go: um aplicativo de Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) que ajuda crianças não-verbais a se expressarem através de símbolos e imagens. 

Organização e rotina: 

Manter uma rotina organizada é fundamental para o bem-estar de pessoas autistas, pois proporciona uma sensação de segurança e previsibilidade no dia a dia. No entanto, planejar e manter essa rotina pode ser um grande desafio, devido às diversas demandas diárias, como estudos, tratamentos e trabalho. Para auxiliar nesse processo. Separamos alguns aplicativos que podem ajudar:

  • First Then Visual Schedule: este aplicativo permite criar agendas visuais personalizadas para ajudar na transição entre atividades e reduzir a ansiedade. Ele oferece suporte visual e sonoro para informar sobre os acontecimentos diários;
  • Choiceworks: um aplicativo que ajuda a criar agendas visuais, promovendo a independência e reduzindo a ansiedade. Ele é fácil de usar e personalizável;
  • Minha Rotina Especial: um aplicativo em formato de agenda que permite inserir fotos reais e gravar áudios para criar uma rotina mais organizada e clara. Ele ajuda a reduzir a ansiedade em atividades novas;
  • Visual Schedule Planner: este aplicativo permite criar horários visuais detalhados e personalizáveis, ajudando a organizar o dia-a-dia de forma eficiente.

Referências: 

A volta às aulas para pessoas autistas pode ser um período desafiador do ano, devido à transição da rotina descontraída das férias para a nova rotina de compromissos escolares ou acadêmicos. Pensando nisso, separamos algumas dicas que podem ajudar no processo de adaptação e estudos:

1. Estabeleça uma rotina

Crie um cronograma diário que inclui horários para acordar, se alimentar, estudar e relaxar. A rotina vai ajudar a trazer mais previsibilidade para o dia a dia e fazer com que a pessoa  se sinta mais segura e preparada..

2. Use ferramentas visuais

Para ajudar com a organização das atividades, utilize recursos visuais como listas de tarefas e calendários. A inclusão de pictogramas pode facilitar a compreensão das atividades diárias e promover uma rotina mais estruturada e organizada.

3. Crie um espaço de estudos confortável

Separe um espaço da casa para os estudos, garanta o acesso a um local  tranquilo e organizado para realizar as atividades. Reduzir distrações sensoriais, como ruídos, luzes fortes, pode ajudar a concentração e a produtividade. 

4. Tenha pausas regulares

Inclua pausas curtas nas atividades escolares da pessoa neurodivergente para que ela possa recarregar as energias e prevenir a sobrecarga sensorial e emocional.

5. Comunique-se com os professores

Estabeleça uma comunicação constante com os professores e a equipe escolar. Compartilhar informações sobre as necessidades e preferências da pessoa autista pode ajudar a adaptar as estratégias de ensino e suporte.

6. Celebre pequenas conquistas

É importante comemorar os pequenos passos, por menores que sejam. Reconhecer e valorizar as conquistas ajudam a aumentar a autoconfiança e a motivação da pessoa autista. 

Além disso, é fundamental criar um ambiente acolhedor e estruturado, onde as necessidades individuais sejam respeitadas e valorizadas.

Referências:

VIVER AUTISMO: Autismo e a Volta às Aulas 2025: Como Preparar as Crianças para um Retorno Inclusivo. Disponível em: https://viverautismo.com.br/autismo-e-a-volta-as-aulas-2025-como-preparar-as-criancas-para-um-retorno-inclusivo/ Acesso em 20 de Fevereiro de 2025.