Profissionais com TEA enfrentam várias dificuldades no dia a dia, mas são totalmente capazes de atuar dentro de uma empresa com qualidade

Imprevisível e não-linear. Infelizmente é assim o desenvolvimento de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Isso acaba sendo motivo de preocupação por parte dos pais, que não conseguem ter certeza de como serão seus filhos no futuro. Médicos e especialistas não são capazes de garantir nada e as diferentes terapias funcionam de um jeito bem específico para cada indivíduo.

Assim, as dúvidas só aumentam nas cabeças dos pais: “Será que meu filho conseguirá ser independente? Será que ele poderá arrumar um emprego para se sustentar e ter uma vida adulta feliz?”. Bem, as respostas para essas perguntas variam muito. Mas a boa notícia é que diversas pessoas com TEA, mesmo com todas as suas particularidades de comportamento, já estão conseguindo uma chance no mercado de trabalho.

Há desafios a serem enfrentados, claro, mas possuir uma carreira não é algo impossível. Quer saber mais? No artigo desta semana, discutimos como é o cenário profissional para quem tem essa condição.

A situação atual do mercado

Um estudo realizado com 248 adultos com TEA dos Estados Unidos, Suécia e Austrália apontou que 22.5% deles possuía um emprego em tempo integral. No Reino Unido, a pesquisa do The National Autistic Society chegou a um número ainda menor: apenas 16% dos adultos com essa condição trabalha de forma remunerada durante várias horas ao dia.

Uma barreira para que esses dados não sejam um pouco mais favoráveis é a dificuldade que empregadores têm de entender o que podem esperar de pessoas dentro do espectro e o que fazer para garantir as melhores condições de trabalho para elas. Há também certa insegurança de achar que funcionários com TEA não vão conseguir lidar com a pressão e a rigidez de determinadas tarefas e processos.

Para que isso mude, empregadores precisam se conscientizar e assumir o compromisso de contratar e manter pessoas com TEA na equipe. Afinal, muitas vezes elas possuem habilidades que podem ser uma vantagem para diferentes tipos de negócios, como uma facilidade maior de enxergar problemas por outros ângulos, permanecer focado, ter mais atenção a detalhes e até realizar com qualidade atividades um pouco mais repetitivas.

Como a PhD em Zootecnia, escritora e ativista Temple Grandin defendeu em sua palestra no TED, algo que pode estimular pessoas com essa condição é oferecer a elas tarefas específicas, porque suas mentes tendem a ser especialistas em algo. Existem, por exemplo, aquelas que pensam por imagens (e que são ótimas como designers e fotógrafas); aquelas que pensam por padrões (e que são bem-sucedidas como engenheiras e programadoras); e aquelas que pensam por palavras (e que se dão bem nas redações de jornais e nos palcos de teatro).

Ou seja, a pessoa com TEA e seus familiares precisam entender o que é mais adequado para ela, considerando suas características, habilidades e interesses.

Mudando o cenário

Para vermos mais profissionais dentro do espectro em empresas, algumas mudanças simples no ambiente de trabalho devem acontecer para torná-lo mais inclusivo. É necessário, por exemplo, reduzir a quantidade de estímulos excessivos (barulhos altos e luzes fortes demais) e entender que profissionais com TEA podem precisar de mais pausas durante o dia.

Colegas de equipe também são importantes para apoiá-los e deixá-los o mais à vontade possível, tendo em mente que nem sempre eles saberão lidar com todas as regras sociais do dia a dia. Para um rendimento ainda melhor de quem tem essa condição, o serviço deve ser organizado e ter rotinas bem estruturadas, sem muitas variações e com cargas horárias não muito extensas.

Algumas organizações já praticam o bom exemplo. A empresa Specialisterne, por exemplo, onde a maioria dos funcionários está dentro do espectro, oferece cursos de cinco meses que capacitam pessoas com essa condição para que elas trabalhem na área da tecnologia da informação. Já a Autism Speaks lançou o portal The Spectrum Careers, que reúne diferentes oportunidades de trabalho para profissionais com TEA e torna mais fácil o processo de encontrar e ser encontrado por empregadores nos Estados Unidos.

As conquistas dos indivíduos com TEA no mercado de trabalho são positivas para a sociedade e muitas viram até notícias de televisão e jornais. É o que aconteceu com Jeanine Lazili, que há 20 anos é assistente administrativa na mesma empresa; Carlos Alberto Jorge Junior, o Caco, de Santos (SP), que tornou-se inspetor de alunos na escola onde estudou; e Heitor Melo, que desde 2012 trabalha em uma empresa multinacional de São Paulo.

Esperamos que exemplos como esses não parem de surgir e que o potencial de pessoas com TEA seja cada vez mais aproveitado pelas organizações.

Autista e escritora falou sobre autismo e também sobre bem-estar animal, temas em que ela é especialista

Na noite desta terça-feira, 17 de julho de 2018, a escritora norte-americana Temple Grandin ministrou uma palestra em São Paulo, num teatro no bairro da Mooca. Com plateia lotada, mais de 400 pessoas assistiram Grandin — que tem o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) — ministrar uma palestra de quase duas horas falando sobre reflexões a respeito do autismo. Além de escritora, ela é especialista em ciência animal e revolucionou as práticas para o tratamento racional de animais vivos em fazendas e abatedouros.

O evento teve inicio com a exibição da cinebiografia da escritora, o filme “Temple Grandin”, uma produção de 2010 — feita pela HBO somente para TV, estrelado por Claire Danes, dirigido por Mick Jackson e vencedor de um Globo de Ouro entre outros 33 prêmios (o filme pode ser visto no serviço HBO Go ou em blue-ray). Um dos pontos altos do filme é  a exibição da “máquina do abraço”, uma engenhoca que ela criou na juventude para lhe pressionar como se estivesse sendo abraçada e que a acalmava, assim como a algumas outras pessoas com TEA.

Em seguida, após os agradecimentos da presidente da AMA (Associação de Amigos do Autista) de São Paulo, Fátima Souza, a atração principal da noite, Temple Grandin, fez sua palestra com o tema “Reflexões sobre o autismo para pais e cuidadores”. 

Além de falar de sua trajetória de vida, explicou sobre várias estratégias a serem usadas com autistas, como, por exemplo, para crianças que têm hipersensibilidade auditiva, que se “deixe a criança controlar o que faz barulho e a incomoda. Se é o som do aspirador de pó que a agride os ouvidos, se a própria criança puder ligar e desligar o aspirador de pó quando ela quiser, se sentirá segura. E aos poucos vai tolerar aquele barulho”, explicou a escritora.

Perguntas

Ao final do evento, respondeu a perguntas da plateia. 

A Tismoo enviou duas questões, que Temple respondeu prontamente:

Qual sua opinião sobre o aumento dos números do autismo nos EUA?

“Os diagnósticos estão aumentando. Adolescentes que nunca foram diagnosticados, estão sendo agora. Crianças não-verbais, que foram rotuladas com outros transtornos, hoje estão vendo que elas estão no espectro do autismo. Eu trabalhei com várias pessoas com habilidades especiais que certamente estão dentro do espectro.”

O que você acha ser o mais importante para a inclusão de adultos autistas em países como o Brasil, com um grande desafio econômico e educacional?

“Acho que em muitos países que enfrentam esse desafio, as coisas vão melhorar no futuro. Penso que tenham que encontrar uma forma de resolver o problema localmente, ajudando esses adultos a trabalharem no comércio local, em pequenas lojas. Para autistas não-verbais, talvez precise que os avós ou algum vizinho aposentado trabalhe com eles,há vários materiais educativos bons hoje em dia disponíveis para atividades. Pensem no futuro cada vez mais, e em ter soluções locais.”

Aplaudida de pé pelo público, o evento se encerrou com o sorteio de livros de Grandin e com uma sessão de autógrafos e fotografias.

Livros e prêmios

Temple Grandin  é uma das pessoas com TEA mais famosas do planeta atualmente. Em 2010, no mesmo ano do lançamento do seu filme,  ela foi mencionada pela revista Time na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo, na categoria “Heróis“. Em 2011, ela foi premiada com a Medalha Dupla Hélice (em inglês: Double Helix Medal), um prêmio concedido desde 2006 pelo laboratório Cold Spring Harbor (CSHL) a pessoas que impactaram positivamente no aprimoramento da saúde humana mediante cuidados e fundos para pesquisa biomédica. Em 2012, Grandin deu uma entrevista exclusiva à publicação brasileira Revista Autismo.

A respeito de autismo, seu primeiro livro foi uma autobiografia, lançada no Brasil em 2009 com o título: “Uma Menina Estranha” (já fora de catálogo), cujo título original é Emergence: Labeled Autistic” — conversando com o renomado neurologista Oliver Sacks, ela pronunciou uma frase que dá bem a medida de como o mundo lhe parece estranho: “A maior parte do tempo eu me sinto como um antropólogo em Marte”, que depois virou título de um dos livros do saudoso neurologista, “Um Antropólogo em Marte“, (An Anthropologist on Mars“). O mesmo Sacks escreveu no verso do livro “Thinking in Pictures”, de Temple Grandin, que seu primeiro livro era “sem precedentes porque não era uma narrativa interna do autismo”

Bem-estar animal

Nos dois dias seguintes, a programação  será de eventos sobre bem-estar animal, com diversas palestras e debates sobre o tema, Kellen Severo, jornalista especializada em economia e agronegócios. Temple Grandin publicou 18 livros, sendo 7 especificamente sobre comportamento e bem-estar animal e 11 sobre autismo. Seus livros Animals in Translation (lançado no Brasil com o título “Na Língua dos Bichos“) e Animals Make Us Human (no Brasil: “O Bem-Estar dos Animais“) estão na lista dos best sellers do New York Times, sendo que este último também consta na lista dos best sellers do Canadá.

Temple Grandin é bacharel em Psicologia pela Franklin Pierce College, mestre em Zootecnia pela Universidade Estadual do Arizona e doutora também em Zootecnia pela Universidade de Illinois. Atualmente, ela ministra cursos sobre comportamento de rebanhos e projetos de instalação na Universidade Estadual do Colorado nos EUA, além de prestar consultoria para a indústria pecuária em manejo, instalações e cuidado de animais. 

Segundo pesquisadores da Universidade McGill, no Canadá, crianças bilíngues que estão dentro do espectro têm mais flexibilidade cognitiva. Entenda.

Para pais de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), a tomada de decisões é sempre um pouco mais complexa por envolver uma série de diferentes fatores. São frequentes perguntas como: “Será que essa escola é a melhor para o meu filho?”, “Qual esporte é mais indicado para ele?”, “Um animal de estimação poderia favorecer seu desenvolvimento?”, etc.

Outra questão que ainda gera muitas dúvidas, mas que já começa a ser solucionada, é se a criança dentro do espectro pode aprender uma segunda língua. Segundo um estudo da Universidade McGill (Canadá), publicado recentemente na revista científica Child Development, esse ensino é de fato positivo, pois melhora a flexibilidade cognitiva da criança.

Isso significa que ser bilíngue pode aprimorar a capacidade dela de se adaptar facilmente a situações distintas, emitindo respostas específicas para cada caso. Assim, uma criança bastante acostumada com sua rotina enfrentaria menos obstáculos e ficaria menos frustrada se tivesse que trocar de atividade quando as coisas saírem do previsto.

O estudo

Anteriormente, pesquisadores já haviam sugerido que pessoas bilíngues desenvolviam maior flexibilidade cognitiva ao passar de uma língua a outra inconscientemente para se adequar a cada contexto comunicacional. Porém, só agora essa habilidade começou a ser analisada em indivíduos com TEA.

Os responsáveis pela nova pesquisa da Universidade McGill investigaram como 40 crianças entre 6 e 9 anos de idade – dentro ou fora do espectro, além de bilíngues ou monolíngues – se saíam em um teste de computador. Inicialmente, elas tinham que separar objetos apenas considerando a cor (dividir coelhos azuis dos barcos vermelhos, por exemplo); depois, precisaram separar os mesmos objetos considerando apenas o formato. A conclusão foi que crianças bilíngues com TEA tiveram menos dificuldade para realizar a tarefa.

O resultado empolga os pesquisadores, porque ainda existe a crença de que aprender uma nova língua poderia prejudicar crianças dentro do espectro, chegando até a piorar as dificuldades linguísticas que elas já têm. Na realidade, a pesquisa pode ser bastante significativa para muitas pessoas, principalmente para aquelas que moram em países onde o conhecimento de múltiplas línguas é normal e garante mais oportunidades profissionais, educacionais e comunitárias.

Por enquanto, novos estudos nessa linha deverão ser feitos, já que a pesquisa da Universidade McGill foi relativamente pequena e se aplica a um grupo limitado de pessoas dentro do espectro. Porém, a ideia dos responsáveis pelo estudo é continuar o trabalho acompanhando as mesmas crianças que fizeram o teste pelos próximos três ou cinco anos e verificar se a vantagem bilíngue também pode ser observada no dia a dia delas.

 

As férias de julho estão se aproximando e pais logo precisarão descobrir formas de ocuparem os dias de seus filhos. Confira nossas dicas no artigo desta semana.

Quando as férias escolares finalmente chegam, muitos pais começam a pensar em como serão as atividades de seus filhos nas próximas semanas. Pais de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) também passam por isso, mas com um desafio a mais, já que tudo deve ser planejado com um cuidado especial.

Isso porque, para quem está dentro do espectro, o recesso escolar representa uma grande quebra de ritmo no dia a dia. Se a criança está acostumada com a familiaridade e a consistência da rotina, ela pode ter dificuldade de lidar com a sensação de liberdade proporcionada pelas férias.

Por isso, hoje queremos dar algumas dicas para que pais possam ajudar seus filhos e transformar esse período na experiência mais tranquila possível.

Encare a quebra de rotina como algo positivo

Para o pesquisador e fonoaudiólogo David Trembath, há benefícios que surgem com o recesso. Apesar da importância da rotina para muitas crianças com TEA, uma interrupção nos padrões pode ser um aprendizado, ajudando-a a se adaptar a esse tipo de situação e expandindo suas habilidades e interesses. Ou seja, ela ganha um pouco mais de independência quando têm de lidar com mudanças desse tipo.

Para estimular esse comportamento é importante envolver a criança no planejamento das atividades das férias e deixar claro em um calendário o início e o fim desse período, explicando por que as coisas serão daquela forma durante um tempo.

Em todo esse processo que é construído aos poucos, a comunicação é fundamental: pais devem tentar eliminar as prováveis surpresas que poderão surgir na nova rotina, anotando cada atividade do dia no papel e estabelecendo horários. Assim, a criança pode antecipar as mudanças que virão e ter uma representação visual que a ajudará nesse processo, diminuindo sua ansiedade.

Outro detalhe importante é que, antes de visitar museus, parques ou livrarias, por exemplo, pais podem apresentar com detalhes para seu filho como será o trajeto até o local, o que eles vão comer, quanto tempo ficarão lá e por qual motivo aquele passeio foi escolhido.

Essas informações podem ser contadas em formas de “histórias sociais”, um recurso útil para preparar crianças para um determinado acontecimento. Essas histórias funcionam como uma espécie de guia escrito e ilustrado, que descreve situações sociais e comportamentos esperados.

Se pensarmos que viagens mais longas para outros estados ou países podem ser bem estimulantes e estressantes para crianças dentro do espectro, vale ainda mais a pena montar uma história social com imagens dos lugares que serão visitados e dos parentes que estarão lá.

Atenção para o excesso

Alguns pais tendem a querer ocupar todos os dias das férias com atividades, já que o tempo ocioso pode deixar o filho ansioso. Mas a verdade é que o equilíbrio é fundamental e cada criança com TEA terá os seus limites. Momentos de diversão que estimulam muito os sentidos podem ser perfeitos se, para compensar, você planejar para o mesmo dia momentos de descanso e relaxamento.

É importante lembrar que as férias também podem ser prazerosas dentro de casa. Há jogos de tabuleiro e baralho, livros de colorir, filmes, séries, músicas, quebra-cabeças e várias outras coisas que podem ser preferidas pelas crianças que quiserem um pouco de tranquilidade no fim do dia ou simplesmente preferirem ficar dentro de casa na maior parte do tempo.

O principal é que a rotina escolhida durante as férias agrade todos os membros da família e seja tranquila de lidar, ajudando a aproximar pais e filhos ainda mais.

A sub-representação de grupos minoritários pode afetar o entendimento de todas as suas particularidades com TEA. Saiba mais sobre esse importante tema no artigo desta semana.

Nas escolas, nas empresas, nos filmes, nos esportes, na política… Em várias áreas a diversidade vem ganhando uma importância cada vez maior, com muitas pessoas percebendo que ela deve ser garantida e preservada. No caso das pesquisas sobre o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), isso não é diferente.

Segundo as professoras da Universidade de Connecticut, Stormy Chamberlain e Louisa Kalsner, grande parte dos bancos de dados com informações genéticas não representa adequadamente minorias, como negros e hispânicos. Considerando que vários estudos são feitos com pessoas brancas, os resultados podem não representar todos os grupos étnicos e raciais da melhor forma possível. Com isso, a sub-representação acaba afetando resultados de estudos e até o atendimento clínico.

Por isso, incluir minorias nas pesquisas é mais do que ético — é vital para entender todas as particularidades do TEA, principalmente porque cada grupo pode apresentar sintomas distintos. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), por exemplo, crianças negras e hispânicas com TEA têm maior probabilidade que as brancas de apresentar déficit intelectual.

O que explica a sub-representação?

Nos Estados Unidos, uma barreira para a inclusão ainda é o idioma. A ausência de sites e materiais informativos em espanhol e outras línguas, além de médicos que dominam apenas o inglês, podem afastar famílias.

Sem acesso à informação de qualidade, pais em grupos minoritários não conhecem os sintomas do TEA e não percebem os primeiros sinais da condição em seus filhos. Isso faz com que muitas crianças fiquem sem diagnóstico, algo que seria o primeiro passo antes da participação em pesquisas ou do tratamento em si.

Em seus estudos, o diretor do Centro de Políticas de Saúde Mental e Pesquisa de Serviços da Universidade da Pensilvânia, David Mandell, percebeu que crianças negras têm mais chances de receberem um diagnóstico errado ou atrasado de TEA: em média, mais de um ano e meio após crianças brancas.

Além disso, crianças negras com essa condição têm 2,6 vezes menos chances de serem diagnosticadas corretamente na primeira visita a um médico especialista. Muitas delas acabam recebendo diagnósticos como Transtorno de Conduta, por exemplo.

Mas é claro que a principal causa é financeira. Infelizmente, vários grupos minoritários não possuem condições de participar das pesquisas sobre o TEA. Se há custos altos demais envolvidos ou dificuldades relacionadas à ausência de transporte e horas de trabalho pouco flexíveis, essas famílias podem acabar sendo excluídas dos estudos.

Por outro lado, o avanço da tecnologia está favorecendo empresas como a Tismoo, que reconhecem a importância da diversidade e trabalham para reduzir cada vez mais os custos dos sequenciamentos genéticos. Neste ano, por exemplo, houve uma diminuição significativa nos preços de vários exames genéticos, tornando-os muito mais acessíveis para o público (confira aqui).

A diversidade nos bancos de dados genéticos é algo que a comunidade científica luta para conquistar. No futuro, os sequenciamentos genéticos serão uma ferramenta bem útil para o diagnóstico do TEA e favorecerão todas as pessoas, inclusive os grupos minoritários.

(Com informações do site Spectrum News).

Assim como no DSM, o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, a nova CID une os transtornos do espectro num só diagnóstico

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) passou a constar na nova Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, a CID-11 (ICD-11 na sigla em inglês para International Statistical Classification of Diseases and Related Health Problems), lançada nesta segunda-feira (18/junho) pela Organização Mundial da Saúde (OMS)(saiba o que é autismo)

O documento seguiu a alteração feita em 2013 na nova versão do Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais, o DSM-5 (na sigla em inglês para: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), que reuniu todos os transtornos que estavam dentro do espectro do autismo num só diagnóstico: TEA.

A CID-10 trazia vários diagnósticos dentro dos Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD — sob o código F84), como: Autismo Infantil (F84.0), Autismo Atípico (F84.1), Transtorno Desintegrativo da Infância (F84.3), Transtorno com Hipercinesia Associada a Retardo Mental e a Movimentos Estereotipados (F84.4), Síndrome de Asperger (F84.5), Outros TGD (F84.8) e TGD sem Outra Especificação (F84.9). A nova versão da classificação une todos esses diagnósticos no Transtorno do Espectro do Autismo (código 6A02 — em inglês: Autism Spectrum Disorder — ASD), as subdivisões passaram a ser apenas relacionadas a prejuízos na linguagem funcional e deficiência intelectual. A intenção é facilitar o diagnóstico e simplificar a codificação para acesso a serviços de saúde. (saiba quais são os sinais e sintomas de autismo)

A exceção ficou somente por conta da Síndrome de Rett (antigo F84.2) que agora fica sozinha na nova CID-11, com o código LD90.4.Ebook 5 temas sobre autismo - Tismoo

OMS

A CID, hoje com aproximadamente 55 mil códigos únicos para lesões, doenças e causas de morte, é a base para identificar tendências e estatísticas de saúde em todo o planeta. O documento da OMS fornece uma linguagem comum que permite aos profissionais compartilhar informações de saúde em nível mundial. A nova versão foi feita 18 anos depois do CID-10 (lançado em 1990).

“A CID é um produto do qual a OMS realmente se orgulha. Ela nos permite entender muito sobre o que faz as pessoas adoecerem e morrerem e agir para evitar sofrimento e salvar vidas,” disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “

O trabalho de elaboração do documento levou mais de 10 anos, e a CID-11 será a primeira versão totalmente eletrônica. A ferramenta foi projetada para uso em vários idiomas: uma plataforma de tradução central garante que suas características e resultados estejam disponíveis em todas as línguas traduzidas.

“Um dos mais importantes princípios desta revisão foi simplificar a estrutura de codificação e ferramentas eletrônicas. Isso permitirá que os profissionais de saúde registrem os problemas (de saúde) de forma mais fácil e completa”, afirma Robert Jakob, líder da equipe de classificação de terminologias e padrões da OMS.

O diretor do departamento de saúde mental e abuso de substâncias, Shekar Saxena, também falou sobre o novo CID-11 em vídeo oficial da OMS:

Novos capítulos

Essa é a primeira grande revisão da CID em quase três décadas, que agora traz capítulos inéditos, um deles sobre medicina tradicional. Embora milhões de pessoas recorram a esse tipo de cuidado médico, ele nunca havia sido classificado neste sistema. Outra sessão inédita, sobre saúde sexual, reúne condições que antes eram categorizadas ou descritas de maneiras diferentes — por exemplo, a incongruência de gênero estava incluída em condições de saúde mental. O distúrbio dos jogos eletrônicos foi adicionado à seção de transtornos que podem causar dependência.

A 11ª versão da CID reflete o progresso da medicina e os avanços na pesquisa científica. Os códigos relativos à resistência antimicrobiana, por exemplo, estão mais alinhados ao GLASS, o sistema global de vigilância sobre o tema. As recomendações da publicação também refletem, com mais precisão, os dados sobre segurança na assistência à saúde. Ou seja, situações desnecessárias com risco de prejudicar a saúde – como fluxos de trabalho inseguros em hospitais – podem ser identificadas e reduzidas.

Para 2022

A CID-11, que será apresentada para adoção dos Estados Membros em maio de 2019 (durante a Assembleia Mundial da Saúde), entrará em vigor em 1º de janeiro de 2022. A versão lançada agora é uma pré-visualização e permitirá aos países planejar seu uso, preparar traduções e treinar profissionais de saúde.

Mais informações (em inglês) no site da OMS (http://www.who.int/health-topics/international-classification-of-diseases).


>> Lei também: “O último dia da Síndrome de Asperger“.

Em resumo, como era e como ficou

Segue a listagem de todos os código em vigor da CID-10 e a nova classificação da CID-11:

Autismo na CID-10

  • F84 – Transtornos globais do desenvolvimento (TGD)
    • F84.0 – Autismo infantil;
    • F84.1 – Autismo atípico;
    • F84.2 – Síndrome de Rett;
    • F84.3 – Outro transtorno desintegrativo da infância;
    • F84.4 – Transtorno com hipercinesia associada a retardo mental e a movimentos estereotipados;
    • F84.5 – Síndrome de Asperger;
    • F84.8 – Outros transtornos globais do desenvolvimento;
    • F84.9 – Transtornos globais não especificados do desenvolvimento.

Autismo na CID-11

  • 6A02 – Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)
    • 6A02.0 – Transtorno do Espectro do Autismo sem deficiência intelectual (DI) e com comprometimento leve ou ausente da linguagem funcional;
    • 6A02.1 – Transtorno do Espectro do Autismo com deficiência intelectual (DI) e com comprometimento leve ou ausente da linguagem funcional;
    • 6A02.2 – Transtorno do Espectro do Autismo sem deficiência intelectual (DI) e com linguagem funcional prejudicada;
    • 6A02.3 – Transtorno do Espectro do Autismo com deficiência intelectual (DI) e com linguagem funcional prejudicada;
    • 6A02.5 – Transtorno do Espectro do Autismo com deficiência intelectual (DI) e com ausência de linguagem funcional;
    • 6A02.Y – Outro Transtorno do Espectro do Autismo especificado;
    • 6A02.Z – Transtorno do Espectro do Autismo, não especificado.

(Atualizado em 21/09/2018 com a listagem de todos os códigos CID-10 e CID-11)

(Atualizado em 15/11/2021 com o código de síndrome de Rett e link para artigo “O último dia da Síndrome de Asperger”)

(Atualizado em 03/01/2022, excluindo-se o código “6A02.4 – Transtorno do Espectro do Autismo sem deficiência intelectual (DI) e com ausência de linguagem funcional;” que ficou de fora da versão final da CID-11)

As práticas esportivas não desenvolvem apenas as habilidades motoras de quem está dentro do espectro. Apresentamos vários outros ganhos possíveis no artigo desta semana.

Melhorias na comunicação, no convívio social e nos estudos. Esses foram alguns dos ganhos de Eduardo Kaizer após ele ter começado a praticar remo no Espírito Santo. Diagnosticado com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), o adolescente de 12 anos encontrou no esporte uma chance de ficar mais saudável e desenvolver várias habilidades essenciais.

Assim como Eduardo, muitas outras pessoas com TEA se beneficiam de atividades como essas e, em época de Copa do Mundo, discutir o potencial das práticas esportivas é ainda mais relevante. Por isso, nesta semana nosso artigo apresenta como o esporte pode ser fundamental para quem está dentro do espectro.

Atividades do bem

Para a professora de ciências da saúde na Universidade de Ontário (Canadá),Meghann Lloyd, atividades físicas não costumam ser o foco dos pais de filhos com TEA. Eles se preocupam mais em desenvolver habilidades como comunicação e contato visual.

Mas há vários casos em que o esporte, além de melhorar as capacidades motoras de quem está dentro do espectro, aumenta sua atenção, aprimora suas habilidades sociais e contribui para o desenvolvimento da comunicação verbal e não-verbal. Exercícios também ajudam a reduzir a ansiedade, uma característica comum entre pessoas com essa condição, e o peso, algo fundamental se considerarmos que crianças com TEA têm mais chances de serem obesas em relação a crianças neurotípicas.

Ainda não existem pesquisas amplas que mostrem exatamente como e quais práticas esportivas favorecem esses ganhos, mas o aspecto social merece destaque. O esporte não só é uma oportunidade de fazer amigos, como ajuda a construir a autoconfiança, e isso impacta positivamente outras áreas da vida da pessoa com TEA.

Em alguns casos, ela pode até chegar em um nível mais profissional. Existem atletas dentro do espectro que têm reconhecimento mundial, como o jogador de basquete Anthony Ianni, a nadadora Jessica-Jane Applegate (foto abaixo), o surfista Clay Marzo, o velocista Mikey Brannigan e o lutador de MMA John Howard.

Modalidades

Cada criança com TEA vai se identificar mais e se sentir estimulada com um determinado tipo de esporte. Quanto mais nova ela começar a praticar alguma atividade, melhor para seu desenvolvimento. Algo que garante o sucesso disso é um treinamento estratégico cuidadoso, em que o aprendizado das regras do esporte é dividido em vários pequenos passos para que tudo fique bem claro. Nesse sentido, ilustrações, comunicação com gestos e instruções bem objetivas podem ajudar muito.

De acordo com o professor de educação física e pesquisador Tiago Toledo, no site Esporte e Inclusão, cada atividade traz ganhos específicos. A natação é uma das mais indicadas, porque trabalha o tônus muscular e ajuda a fortalecer o aparelho cardiorrespiratório. A própria água funciona como um elemento terapêutico, possibilitando o desenvolvimento da coordenação motora com mais facilidade e liberdade.

Por serem esportes coletivos, o futebol e o basquete também são ótimas opções para incentivar a socialização. Há também a esgrima e a escalada, que exigem um pouco mais da coordenação motora, e o jiu-jitsu, que aprimora o foco e a atenção. Um exemplo deste último caso é o de Igor Nogueira, que tinha dificuldades de interagir com a própria família e, após descobrir o jiu-jitsu em 2013, aprendeu a interagir com outras pessoas de forma mais eficiente. Hoje, ele é faixa-azul e conquistou recentemente as medalhas de ouro e prata no ParaJiu-Jitsu, nos Emirados Árabes Unidos.

 

Em relação a outros tratamentos que desenvolvem habilidades de crianças com TEA, os esportes podem ser uma opção bastante acessível. Com o tempo, os estudos científicos poderão mostrar os reais ganhos que eles proporcionam.

 

Um dos desafios da ciência é entender por que algumas pessoas possuem genes extremamente ligados a mutações, mas não são afetadas por eles

Se você já conhece a Tismoo, sabe a importância que damos ao sequenciamento genômico como uma ferramenta no diagnóstico do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Afinal, o desenvolvimento do conhecimento científico nessa área permitiu que muitos genes relacionados a essa condição fossem identificados.

Apesar disso, as coisas não são exatamente simples: uma pessoa que tem mutações em alguns dos genes ligados ao TEA não vai necessariamente ser afetada por elas. Além disso, em indivíduos com essa condição, a mutação pode se manifestar de forma completamente diferente — um indivíduo pode apresentar grandes dificuldades comunicacionais, enquanto o outro pode não apresentar qualquer problema nesse mesmo aspecto.

Essa habilidade que algumas pessoas têm, de resistir às consequências mais graves de uma mutação genética, foi chamada de “resiliência” pela pesquisa do professor de genética da Université Paris Diderot, Thomas Bourgeron. Entender por que exatamente isso acontece, pode ajudar a esclarecer como heranças genéticas e fatores ambientais contribuem para diferentes trajetórias de desenvolvimento.

Possíveis pistas

A arquitetura genética do autismo é bastante heterogênea. Em alguns casos, uma única mutação em um gene já é suficiente para dar origem à condição. Em outros, o TEA pode ser o resultado da soma de milhares de variantes, cada uma com um efeito específico. Independentemente da situação, as respostas têm grandes chances de serem obtidas com a compreensão plena do genoma humano.

Uma das descobertas já feitas pela ciência é a de que as consequências de uma mutação podem ser “suprimidas” por outra. Isso significa que algumas pessoas nascem com genes modificadores capazes de impedir outras mutações de se manifestarem e originarem condições graves.

A porcentagem desses indivíduos “resilientes” no Simons Simplex Collection — depósito de amostras genéticas de famílias com pelo menos uma criança com autismo — foi identificada pelo estudo de Bourgeron. Nele, pesquisadores consideraram “resilientes” todos os irmãos e pais neurotípicos que apresentam mutações em um conjunto de 65 genes extremamente associados à síndrome.

Resultados preliminares com 1.776 famílias revelaram a presença da “resiliência” em 2% a 3% dos familiares de indivíduos com TEA. Dependendo do gene, esse número pode ser maior ou menor. Há também outros genes para os quais simplesmente não foram encontrados familiares “resilientes”.

O próximo passo da pesquisa é determinar os fatores que permitem os “resilientes” viverem sem as consequências de suas mutações. Talvez os genes afetados se manifestaram em níveis menores que outros ou talvez os genes modificadores realmente inibiram os efeitos de uma mutação.

No futuro (próximo)

A partir do momento que se entende a lógica por trás dos genes modificadores — estudando pessoas “resilientes” que apresentam a mutação, mas não são afetadas por ela — é possível pensar em medicamentos ou terapias que consigam agir de forma semelhante. Assim, níveis mais graves do autismo, por exemplo, poderão ser tratados mais eficientemente desde cedo.

A tendência é que, com o tempo, mais e mais indivíduos tenham seu genoma sequenciado e a ciência consiga ter uma compreensão maior de como nosso corpo funciona nos mínimos detalhes.

(Com informações do site Spectrum News).

No artigo desta semana, apresentamos algumas considerações para esse cenário e mostramos que a ciência tem muito a descobrir sobre o TEA em mulheres.

Maya conseguiu o reconhecimento médico do seu diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) depois de passar por 14 psiquiatras e receber 9 diagnósticos diferentes. Durante 10 anos, ela ouviu de profissionais que possuía Transtorno de Personalidade Limítrofe, agorafobia, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e várias outras condições que não explicavam totalmente a sua situação.

A história de Maya revela o quão difícil pode ser a identificação do TEA no sexo feminino . Assim como ela, muitas outras mulheres passam por uma longa jornada até finalmente chegar ao diagnóstico correto. Algumas até vivem grande parte de suas vidas sem nunca saber a verdade.

E por que isso acontece mais com as mulheres do que com os homens? No artigo desta semana, vamos apresentar algumas explicações possíveis para este cenário.

Tateando no escuro

A literatura científica está repleta de explicações do porquê há uma frequência maior de homens com o diagnóstico de TEA do que mulheres afetadas. Embora alguns destes estudos tenham concluído que o cérebro masculino requer alterações menos extremas que o feminino para produzir os sintomas do TEA, há quem diga que as mulheres não estão sendo diagnosticadas corretamente.

Isso acontece desde a infância, época em que as meninas costumam apresentar dois quadros: um mais grave, que acaba sendo identificado mais facilmente — já que algumas manifestações são mais expressivas e podem envolver movimentos repetitivos e atraso de linguagem, por exemplo –, e outras manifestações mais leves, que muitas vezes, passam completamente despercebidas ou estão associadas a outras condições, como TOC e Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).

Outro fator que dificulta o diagnóstico é que, de uma forma geral, garotas com TEA têm menos atitudes repetitivas e restritivas que garotos com este mesmo diagnóstico. É possível que as garotas consigam “camuflar” melhor seus sintomas, desenvolvendo estratégias de adequação a diferentes situações e até mesmo podendo imitar comportamentos de meninas neurotípicas da sua idade.

Assim, pais e professores podem não reconhecer nada foram do comum, já que os interesses restritos da filha com TEA são muito semelhantes aos de suas amigas do colégio. Exemplo de comportamento típico é gostar de colecionar bonecas, por exemplo, algo mais socialmente aceitável do que uma fixação por mapas ou linhas de trens, no caso de meninos com TEA.

Ao chegar na adolescência, garotas com TEA começam a lidar com as complicadas regras das interações sociais e a camuflagem de antes passa a ter consequências internas muito ruins. É como se elas disfarçassem as dificuldades que realmente enfrentam todos os dias. Assim, muitas enfrentam problemas de depressão e ansiedade, e quando procuram ajuda especializada de profissionais de saúde, os sintomas relatados por elas acabam não sendo relacionados às manifestações do TEA.

Um dos motivos para isso é que os critérios utilizados para realizar o diagnóstico ainda são baseados em comportamentos sobretudo masculinos. Se não há o olhar cuidadoso de um especialista para fazer a conexão com o TEA, a jovem cresce sem saber da sua condição e pode continuar com as mesmas dificuldades no futuro, já que não recebeu os estímulos adequados na infância para se desenvolver plenamente. O diagnóstico precoce de uma garota com TEA contempla, além da investigação de seu comportamento, a análise minuciosa de quadros de ansiedade e estresse no contexto das interações sociais, por exemplo.

A ciência está ampliando sua observação e investigação de como o TEA se manifesta em mulheres. Felizmente, esta é uma preocupação que ganha cada vez mais importância entre os profissionais da área da saúde. Num futuro que já começou, uma maior conscientização dos profissionais da área de saúde bem como novas abordagens para o entendimento do TEA, estão ajudando a identificação precoce desta condição em garotas para que elas recebam tratamentos mais eficientes e específicos às suas necessidades.

Autistas se expressam de maneiras distintas do ponto de vista da fala, da linguagem e da própria comunicação em contextos sociais. Entenda o que isso significa neste artigo!

Você sabe: o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma condição bastante complexa e uma das consequências disso é que nenhum autista apresenta as mesmas características de outro.

Quando observamos a capacidade de comunicação de cada um deles, isso fica claro. Podem existir desde casos mais leves — em que o autista exibe algumas dificuldades de interagir com outras pessoas, mas sem ter um atraso significativo na linguagem, por exemplo — até os mais severos — em que ele enfrenta grandes obstáculos comunicacionais que comprometem sua sociabilidade.

Por isso, no texto desta semana vamos abordar alguns dos principais aspectos da comunicação de uma pessoa com TEA.

Diferenças entre fala, linguagem e comunicação

Antes de mais nada é preciso entender que esses três componentes estão fortemente ligados entre si e que uma criança pode apresentar dificuldades com apenas um deles.

A fala é o ato motor que permite a transmissão de sons, palavras e frases. Seu desenvolvimento pode ser afetado por alguns fatores, como alterações na percepção do som (no caso da surdez) ou por problemas estruturais ou motores que atingem os órgãos que produzem o som.

Algumas crianças podem achar difícil expressar o que estão sentindo por não conseguirem criar e sequencializar os sons da fala, como no caso da apraxia. Porém, são capazes de compreender tudo o que os outros dizem e até de se comunicarem através da escrita ou de gestos.

Nesses casos, os distúrbios de fala não estão necessariamente ligados ao autismo, mas podem estar. Muitas crianças com TEA comunicam-se normalmente, mas exibem alterações na prosódia, por exemplo, que está relacionada às diferenças no ritmo da fala, no tom de voz e na entonação dada a cada palavra. Outros autistas são completamente não-verbais, mas encontraram uma forma de se expressarem com ajuda da tecnologia, como no caso do jovem Ido Kedar.

Já a linguagem é o instrumento da comunicação oral. Através dela conseguimos desenvolver certas competências em quatro áreas: fonológica (aprendemos a distinguir os sons de letras e sílabas), semântica (aprendemos a atribuir significado às palavras), sintática (aprendemos a organizar termos em uma frase coerente) e pragmática (aprendemos a adaptar e adequar a linguagem dentro de um contexto social).

Assim, uma criança com problemas de linguagem pode pronunciar palavras perfeitamente, mas não ser capaz de construir frases complexas. Ela consegue se comunicar, ainda que de forma simplificada e restritiva (com sentenças bem curtas, por exemplo).

Se esses problemas de linguagem estiverem associados ao autismo, a pessoa também pode inverter pronomes (usando a terceira pessoa para se referir a elas mesmas) ou não dominar completamente a utilização de metáforas, interpretando certas expressões literalmente (como “está chovendo canivete” ou “aquela moça é uma flor”).

Por fim, a comunicação é o processo complexo onde ocorre a troca de informações por meio de combinações verbais (fala e linguagem) e não-verbais (expressões faciais, postura, gestos, olhar e linguagem corporal).

Existem crianças com dificuldades comunicacionais que conseguem falar frases completas e inteligíveis do ponto de vista da linguagem, mas que não fazem sentido para quem ouve, prejudicando o entendimento. A ecolalia, por exemplo, é uma característica presente em alguns autistas em que são repetidas palavras e frases que foram ditas por outras pessoas ou ouvidas em programas de televisão, desenhos e filmes.

Um método de comunicação alternativa bem conhecido e usado por crianças com TEA é o PECS, que consiste em trocar figuras ou fotos em um caderno ou painel. Com ele é possível informar o que se deseja e o que se sente, montando estruturas que outros poderão entender. Se uma criança tem acesso a cartões com figuras que indicam pronomes (“eu”), ações (“quero”), substantivos (“pião”) e adjetivos (“verde”), por exemplo, ela pode comunicar que quer brincar com determinado objeto.

E ao contrário do que algumas pessoas pensam, um método alternativo não deixa a criança acostumada a se comunicar apenas por ele. Pelo contrário: ele estimula o aparecimento e desenvolvimento de vocalizações.

 

Uma comunicação realmente funcional e eficiente ocorre dentro de um contexto de troca entre pessoas. De forma geral, indivíduos neurotípicos podem apresentar dificuldades com a fala e com a linguagem, mas são os autistas que mais enfrentam desafios na hora de interagir. A boa notícia é que se atrasos como os citados acima forem detectados rapidamente por pais ou professores, as chances de desenvolvimento com a ajuda de terapias específicas aumentam. Até lá, é papel de cada um se adaptar para aceitar as diferenças na maneira como os autistas se expressam.