Alison Singer, é mãe de uma menina de 23 anos e presidente da ONG Autismo Science Foundation, nos EUA
Alison Singer, cofundadora e presidente da ONG Autism Science Foundation (ASF), de New York (EUA), e mãe de uma mulher de 23 anos com “autismo severo”, propõe a mudança do termo para “autismo profundo”. Num artigo publicado no site Autism Spectrum News, no início deste ano (6.jan.2021), ela conta o surgimento do termo e sua argumentação a respeito do porquê mudar a forma como nos referimos a quem tem autismo com comprometimentos mais graves.
Ela começa o artigo citando uma série da Netflix: “Para muitas famílias que lutam com familiares que têm uma forma significativa de autismo, sua experiência não se parece em nada com o que é descrito na série ‘Amor no Espectro’. Seus filhos não farão parte do namoro e suas preocupações são mais agudas: como posso impedir que meu filho bata a cabeça no chão antes que sua retina se descole? Quem intervirá quando minha filha tentar roubar comida de uma lata de lixo? O que acontecerá com meu irmão adulto não-verbal de 110 quilos que se afasta de seus cuidadores e tem feito ligações para a polícia?”, argumenta Singer. E ainda destaca que, embora programas desse tipo sejam bem-intencionados, a realidade deles está muito longe do autismo com graves comprometimentos e limitações.
Para combater essa falsa percepção e fornecer suporte adicional para indivíduos e famílias que enfrentam essa realidade, segundo ela, pesquisadores proeminentes do autismo cunharam um novo termo para aqueles que estão neste extremo do espectro: “autismo profundo“.
Origem do termo
Alison conta que a dra. Catherine Lord, professora do Centro de Pesquisa e Tratamento do Autismo da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e membro da Comissão Lancet para o Futuro do Cuidado e da Pesquisa em Autismo, cunhou o termo em setembro de 2020, numa palestra sua no evento anual da ASF. “A dra. Lord observou que o autismo é uma condição incrivelmente heterogênea, e há uma grande diferença entre uma pessoa com autismo de alto funcionamento, de alto QI, que ainda pode conseguir agir um tanto tipicamente na sociedade (e fazer coisas como aparecer em um reality show) em contraponto com uma pessoa com autismo grave o suficiente para exigir cuidados 24 horas por dia. De acordo com a doutora, a Comissão Lancet concluiu que ‘categorizações úteis podem chamar a atenção para as diversas necessidades de pessoas diferentes’ e que essas categorizações devem ser aplicadas ‘a toda etnia e classe social’, além de ser consistentes entre os profissionais que fazem diagnóstico em todo o mundo”.
Ela ainda argumenta que o termo “autismo profundo” não se destina a estigmatizar ainda mais as pessoas que se enquadram nesta categoria, mas a “fornecer a diferenciação necessária e apoio adicional para as pessoas e famílias que mais precisam”.
E Alison não escreve apenas como cofundadora e presidente da ASF, mas também como mãe. Sua filha, hoje com 23 anos, integra uma comunidade intencional para adultos com deficiências graves, onde ela trabalha numa fazenda e vive com colegas. “Ela está feliz e produtiva — muito longe do fiasco de anos perdidos tentando uma integração que se adaptasse a todos”, contou a mãe.
Apoio e amor
Alison Singer, encerra seu artigo de maneira muito realista: “Embora a maioria das pessoas com autismo profundo não sejam candidatos prováveis para aparecer em um programa como ‘Amor no Espectro’, todos nós sabemos que todos nesse espectro merecem amor. Introduzir novas categorias no espectro e normalizar o termo ‘autismo profundo’ é um passo importante para fornecer às pessoas o apoio adequado — e o amor — de que precisam”, finalizou.
Médico e neurocientista discutem as principais questões relacionando o TEA e a vacinação contra o novo coronavírus
Dois dos cofundadores da Tismoo, os doutores Carlos Gadia (médico neuropediatra, especialista em autismo) e Alysson Renato Muotri (neurocientista, professor da faculdade de medicina da Universidade da Califórnia em San Diego, nos EUA) farão uma live, neste domingo (17.jan.2021), às 20h30, para falar a respeito de vacinas.
A live será aberta a todos e transmitida no Instagram do projeto EyeContact (@eyecontactlivesshapedbyautism). Logicamente o papo será sobre as vacinas pensando no autismo e toda a amplitude do espectro.
Qual vacina é melhor para autistas? Quais são as informações científicas para essa análise? O que fazer antes e depois de se vacinar? Há alguma questão genética envolvendo as vacinas? Devemos ter algum cuidado a mais na vacinação de pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)? Enfim, todas essas questões deverão ser debatidas nessa live imperdível.
Aliás a vacinação de autistas e demais pessoas com deficiência contra o novo coronavírus tem sido assunto nas redes sociais. Tem surgido um movimento crescente pedindo a priorização de autistas e demais pessoas com deficiência na vacinação contra o novo coronavírus no Brasil, coisa que já acontece em países como a Holanda. Outro exemplo são os Estados Unidos: em diversos estados, como por exemplo na Califórnia, as escolas de educação especial entraram na prioridade número um (Tier 1) no plano de vacinação. Vale debater o tema.
Perdeu a live ou quer revê-la? O vídeo está abaixo, direto do IGTV do EyContact:
‘O Som e a Sílaba’ conta a história de uma autista cantora lírica e sua professora, em 4 episódios, adaptada do teatro
Disney+ — a nova plataforma de streaming da Disney — terá uma minissérie, com quatro episódios, escrita e dirigida por Miguel Falabella: a adaptação do espetáculo “O Som e a Sílaba”. A história gira em torno de uma mulher autista com habilidades extraordinárias para o canto lírico, que, em busca de alguém que lhe ajude a dar sentido à vida depois da morte dos pais, encontra alento em sua professora de canto.
No teatro, os papéis principais do espetáculo musical foram interpretados por Alessandra Maestrini e Mirna Rubim e espera-se que o façam também na versão para televisão. A aproximação de Falabella com a Disney vem acontecendo ao longo de todo o ano, tanto que o canal a cabo Disney Júnior já exibe a animação “Os Óculos Mágicos de Charlotte”, criada por Falabella (que saiu da Globo em julho) em parceria com a ilustradora Suppa.
A informação de rumores sobre esse acordo foi publicada pela colunista d’O Globo, Patrícia Kogut, no mês passado. Agora, a coluna Fefito, de Fernando Oliveira, no UOL, confirmou o fechamento do acordo.
Musical premiado
Nada convencional, mas o espetáculo pode ser considerado um musical. Todos os números apresentados são de ópera e, mesmo para quem conhece a performance de Alessandra Maestrini nos musicais, se surpreendeu com seu desempenho. O próprio Miguel Falabella, em entrevista ao programa “Encontro com Fátima Bernardes”, à época, contou que duvidou da própria Maestrini quando ela se disse capaz de atingir as difíceis notas operísticas que a personagem autista necessitava. Antes do início de cada sessão da peça, um áudio gravado pelo próprio autor advertia que as performances eram ao vivo — sem essa informação, muitos voltariam para casa acreditando terem ouvido um playback das duas cantoras.
A peça foi indicada 23 vezes nas principais premiações brasileiras; e levou 5 delas. Miguel Falabella, além de ator e diretor, é cineasta, escritor, apresentador, dublador, dramaturgo e roteirista.
Peça teatral
No programa da peça, o espetáculo está descrito assim:
“‘O Som e a Sílaba’ foi escrito e concebido por Miguel Falabella especialmente para Alessandra Maestrini e Mirna Rubim, cantoras-atrizes com registro lírico. A peça retrata a história de Sarah Leighton, uma mulher com diagnóstico de autismo altamente funcional – uma savant, com habilidades específicas em algumas áreas (entre elas, a música), e sua relação com Leonor Delis, sua professora de canto. Após a morte dos pais, Sarah busca alguém que lhe ajude a dar algum sentido à sua vida. A jovem tem consciência de suas limitações nas relações pessoais e sabe que precisa romper as barreiras da síndrome para se ajustar ao mundo lá fora. Em sua busca por autonomia, ela lista suas habilidades, entre elas, o cantar. Ela sabe cantar.
‘Gente como eu precisa de duas coisas na vida’ – ela diz a Leonor, ao se apresentar – ‘De um trabalho e de alguém que lhe estenda a mão’. Recém-saída de um divórcio penoso, Leonor, por sua vez, atravessa uma crise pessoal e profissional. A música vai unir essas duas mulheres e esse encontro mudará definitivamente a trajetória de ambas. Recheada com árias, duetos e trechos célebres do bel canto, ‘O Som e a Sílaba’ celebra a grandeza e mistério da mente humana e seu inexorável avanço em sua aventura na terra.”
Por que meninas teriam mais “resistência” genética ao risco de autismo e quais as evidências contra e a favor dessa teoria.
Hannah Furfaro, do Spectrum News, traduzido para o português por Francisco Paiva Junior
Um dos enigmas mais intrigantes do autismo é o porquê de quatro vezes mais meninos serem diagnosticados com o transtorno do que meninas.
O viés de diagnóstico explica parcialmente essa proporção. A principal teoria genética do autismo, que mostra um “efeito protetor feminino”, também oferece uma explicação poderosa. A teoria sugere que meninas e mulheres são mais “protegidas” biologicamente do autismo.
Aqui, explicamos a teoria e examinamos os dados que a sustentam ou a derrubam.
Quais são as origens da teoria do “efeito protetor feminino”?
Na década de 1980, Luke Tsai , então na Universidade de Michigan em Ann Arbor (EUA), descobriu que meninas autistas têm, em média, mais parentes com autismo ou alguns problemas de linguagem do que meninos com o transtorno (1). Essa descoberta indica que as meninas precisam herdar mais fatores genéticos relacionados ao autismo do que os meninos para apresentar características dessa condição de saúde. Vários grandes estudos desde então confirmaram a observação de Tsai.
Que evidências apóiam essa teoria?
A evidência mais convincente para a teoria vem de vários grandes estudos de famílias ou gêmeos. Um estudo descobriu que os irmãos mais novos de meninas autistas são mais propensos a ter o transtorno do que os irmãos mais novos de meninos autistas (2). Outros estudos sugerem que as meninas são mais “resistentes” às mutações ligadas ao autismo do que os meninos — ou seja, as meninas podem ter as mesmas mutações genéticas que os meninos autistas e, ainda assim, não ter Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).
Alguns estudos sugerem que mais mutações, ou ‘acertos’, são necessários para desencadear autismo em meninas do que em meninos. Um estudo de 2011 mostrou que meninas autistas têm mais duplicações ou deleções espontâneas de DNA, chamadas variações do número de cópias (copy number variation: CNVs, na sigla em inglês), do que meninos autistas (3); outro estudo confirmou o achado, três anos depois (4). Este estudo também relatou que meninas autistas têm três vezes mais probabilidade do que meninos de carregar CNVs que incluem genes do autismo.
Alguns experimentos com animais também confirmam a teoria. Camundongos fêmeas com deleção na região cromossômica 16p11.2 , que está ligada ao autismo, não têm os problemas de aprendizagem que os machos com deleção têm; elas parecem compensar a perda por meio de uma proteína chamada ERK. Outra equipe descobriu que as fêmeas de uma linhagem diferente de camundongos, que têm a deleção 16p11.2, compensam essa perda comportamentalmente.
Poderia o viés de diagnóstico, em vez deste “efeito protetor”, explicar a proporção de sexo do autismo?
Sim. O autismo se manifesta de forma diferente nas meninas e nos meninos. Mas as ferramentas usadas para diagnosticar e rastrear o autismo são baseadas principalmente em dados de meninos. Eles geralmente não levam em consideração a variação nas características do autismo entre os sexos.
Como resultado, muitas mulheres e meninas autistas são diagnosticadas com o transtorno tardiamente ou nem chegam a serem diagnosticadas. Esse subdiagnóstico pode ter levado a uma proporção sexual distorcida.
Existem evidências que contradizem o “efeito protetor feminino”?
Sim, mas não muito.
Se as meninas autistas carregam mais fatores de risco familiares do que os meninos autistas, os irmãos delas também devem estar em maior risco de desenvolver autismo ou traços de autismo. Mas alguns cientistas descobriram o oposto.
Um estudo de 2015 não encontrou associação entre o sexo de crianças autistas e a extensão dos traços de autismo em seus irmãos mais novos (5). No entanto, um estudo de 2013 mostrou que irmãos de meninas autistas têm mais traços de autismo do que irmãos de meninos autistas (6). No geral, há mais evidências a favor da teoria do que contra.
Artigo original, em inglês: Spectrum News
Por que é importante estudar esse efeito?
A caracterização dos fatores que “protegeriam” as meninas do autismo pode ajudar os pesquisadores a desenvolver tratamentos direcionados ou reduzir os riscos associados ao transtorno.
Mas encontrar uma explicação biológica para o “efeito protetor feminino” deve acontecer antes. Até agora, todas as evidências que confirmam a teoria são indiretas. Idealmente, os cientistas deveriam identificar aspectos específicos das vias moleculares em meninas que estão por trás de sua “resistência” ao autismo.
Uma equipe está estudando diferenças sexuais no cérebro de indivíduos autistas; outra está pesquisando os genomas de um grande número de meninas em busca de variantes genéticas que possam explicar o “efeito protetor” (7).
Este artigo traduzido para o portugês foi originalmente publicado em inglês, no site Spectrum News, em 1.mai.2019: “The female protective effect, explained“, de autoria da jornalista Hannah Furfaro, mestre em jornalismo científico e de saúde.
Ambas as drogas já foram aprovadas nas fases 1 e 2 dos testes clínicos e demonstraram serem seguras para o consumo humano.
Com testes em laboratório feitos em minicérebros humanos, uma equipe de pesquisadores liderados pelo neurocientista brasileiro Alysson Muotri, na Universidade da Califórnia em San Diego (EUA), conseguiu reverter várias características da Síndrome de Rett e já conta com dois medicamentos para iniciar testes clínicos na fase três (já aprovados nas fases 1 e 2, demonstrando serem seguros para o consumo humano). Os minicérebros “tratados” passaram a se comportar como se não tivessem a Síndrome de Rett.
A maioria das condições de saúde ligadas ao Transtorno do Espectro do Autismo tem um componente genético complexo e multifatorial. A Síndrome de Rett é uma exceção. Os bebês nascidos com essa forma do transtorno apresentam mutações específicas no gene MECP2, causando um prejuízo grave no desenvolvimento do cérebro que afeta principalmente as mulheres e, geralmente, vem acompanhado de características autísticas. No entanto, ainda não há tratamento para a causa — as terapias atuais visam aliviar os sintomas e obter ganho em qualidade de vida. Muitos indivíduos com Rett estão dentro do espectro do autismo.
O que os pesquisadores do Muotri Lab — da Universidade da Califórnia em San Diego (UCSD) e do Consórcio Sanford para Medicina Regenerativa — fizeram recentemente foi usar “minicérebros” (tecnicamente organoides cerebrais derivados de células-tronco) com mutação no gene MECP2 para melhor estudar a síndrome.
Um estudo tão detalhado e tão próximo de um cérebro real só foi possível porque a equipe de Muotri conseguiu, recentemente, otimizar a tecnologia de construção de organoides do cérebro para corresponder ao padrão de impulso elétrico de bebês prematuros (fazendo, inclusive, exames de eletroencefalograma nos minicérebros e registrando atividades cerebrais), tornando-os mais parecidos com cérebros humanos reais do que nunca.
A startup brasileira de biotecnologia Tismoo, da qual Muotri é um dos cofundadores, tem planos de implantar sua unidade de testes de medicamentos (drug discovery), utilizando essa mesma plataforma tecnológica de minicérebros, a partir de 2023.
Pesquisa publicada
Em um estudo publicado dia 8 de dezembro de 2020, na revista científica EMBO Molecular Medicine, a equipe identificou dois medicamentos candidatos a neutralizar os déficits causados pela falta do gene MECP2. Esses compostos restauraram os níveis de cálcio, a produção de neurotransmissores e a atividade do impulso elétrico, fazendo os minicérebros com Rett se comportar como se não tivessem a síndrome, segundo Muotri.
“A mutação do gene que causa a Síndrome de Rett foi descoberta décadas atrás, mas o progresso no seu tratamento tem demorado. Pelo menos em parte, isso aconteceu porque os estudos com modelos de camundongos não obtiveram os mesmos resultados para os humanos”, disse o líder do estudo, o neurocientista brasileiro Alysson Muotri, professor de pediatria e medicina celular e molecular na faculdade de medicina da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA). “Este estudo foi impulsionado pela necessidade de um modelo que imitasse melhor o cérebro humano”, explicou.
Organoides cerebrais, os minicérebros, são modelos celulares tridimensionais que representam aspectos do cérebro humano em laboratório. Esses organoides ajudam os pesquisadores a rastrear o desenvolvimento humano, desvendar os eventos moleculares que levam a doenças e transtornos, além de testar novos tratamentos. Na UCSD, os organoides cerebrais foram usados para produzir a primeira prova experimental direta de que o vírus Zika brasileiro pode causar defeitos congênitos graves e para recolocar os medicamentos existentes para o HIV no tratamento de um outro distúrbio neurológico hereditário raro. Muotri e sua equipe também enviaram minicérebros para a Estação Espacial Internacional a fim de testar o efeito da microgravidade no desenvolvimento do cérebro — e as perspectivas de vida humana fora da Terra.
Eles não são réplicas perfeitas do cérebro humano, é claro. Os organoides não têm conexões com outros sistemas orgânicos, como vasos sanguíneos. Drogas testadas em organoides cerebrais são adicionadas diretamente neles — as substâncias não precisam atravessar a barreira hematoencefálica, vasos sanguíneos especializados em manter o cérebro praticamente livre de bactérias, vírus e toxinas.
Muito próximo do real
Mas os pesquisadores consideram os organoides muito úteis para verificar mudanças na estrutura física ou na expressão do gene ao longo do tempo, ou ainda o efeito de uma mutação genética, vírus ou droga.
No último estudo, os pesquisadores aplicaram este novo protocolo para organoides cerebrais funcionais, usando células-tronco pluripotentes induzidas (iPSCs, na sigla em inglês) derivadas de pacientes com Síndrome de Rett. Em suma, eles coletaram uma amostra de pele, trataram as células com uma técnica que as converteu em iPSCs. A partir daí, como passam a ser células-tronco, podendo se transformar em qualquer célula do corpo, elas são induzidas a se tornarem células cerebrais (neurônios), preservando a origem genética única de cada paciente. Para verificar suas descobertas, a equipe também desenvolveu organoides cerebrais artificialmente sem o gene MECP2, e até mesmo misturou células mutadas e de controle (de neurotípicos) para simular o padrão de mosaico normalmente visto em pacientes do sexo feminino.
A falta do gene MECP2 mudou muita coisa nos minicérebros: forma, subtipos de neurônios presentes, padrões de expressão gênica, produção de neurotransmissores e formação de sinapses. A atividade do cálcio e os impulsos elétricos também diminuíram. Essas mudanças levaram a grandes defeitos no surgimento de ondas oscilatórias neurais corticais, também conhecidas como “ondas cerebrais”.
Em uma tentativa de compensar a falta do gene MECP2, a equipe tratou os organoides do cérebro com 14 drogas candidatas que são conhecidas por afetar várias funções das células cerebrais. Quase todos os sintomas moleculares e celulares foram resolvidos quando os pesquisadores trataram os organoides do cérebro da Síndrome de Rett com as duas melhores drogas candidatas: Nefiracetam e PHA 543613. O número de neurônios ativos nos organoides da Síndrome de Rett, por exemplo, praticamente dobrou após o tratamento. O Nefiracetam e o PHA 543613 foram testados anteriormente em ensaios clínicos de fase 1 e 2 para o tratamento de outras doenças, o que significa que já se sabe que atravessam a barreira hematoencefálica e são seguros para consumo humano.
De acordo com Muotri, esses resultados laboratoriais fornecem um argumento convincente para o avanço do Nefiracetam e do PHA 543613 em ensaios clínicos para pacientes com distúrbios do neurodesenvolvimento relacionados a mutações no gene MECP2.
Coquetéis de drogas
No final, o melhor tratamento para a Síndrome de Rett pode não ser uma “super” droga, disse Muotri, que também é diretor do Programa de Células-Tronco da UCSD, membro do o Consórcio Sanford para Medicina Regenerativa, cofundador da Tismoo e da rede social Tismoo.me. “Há uma tendência no campo da neurociência de procurar medicamentos altamente específicos que atinjam alvos exatos, e de usar um único medicamento para uma doença complexa”, explicou ele.. “Mas não fazemos isso para muitos outros distúrbios complexos, onde tratamentos multifacetados são usados. Da mesma forma, aqui nenhum alvo resolveu todos os problemas. Precisamos começar a pensar em termos de coquetéis de drogas, assim como têm sido bem-sucedidos no tratamento de HIV e câncer”, argumentou.
Também são coautores do estudo: Cleber A. Trujillo, Jason W. Adams, Leon Tejwani, Allan Acab, Charles A. Thomas, UC San Diego; Priscilla D. Negraes, Cassiano Carromeu, UC San Diego e StemoniX Inc.; Ben Tsuda, Terrence J. Sejnowski, UC San Diego e Salk Institute for Biological Studies; Neha Sodhi, Katherine M. Fichter, Fabian Zanella, StemoniX Inc.; Henning Ulrich, Universidade de São Paulo.
Cada palavra dita era comemorada pela família como um gol em final de campeonato no vídeo
Quando se trata de crianças, um dos sinais mais comuns de autismo é a ausência da fala, ao menos nos primeiros anos de vida. Meu filho mesmo começou a falar aos 4 anos de idade. E o momento das primeiras palavras é sempre marcante para os pais. Foi exatamente um vídeo desse momento que viralizou no TikTok há algumas semanas: o garoto Micah, de 5 anos, falando pela primeira vez e a comemoração da família toda a cada palavra dita, no estado de Ohio, nos Estados Unidos.
Hoje com quase 14 milhões de visualizações, o vídeo emocionou muita gente — basta conferir a quantidade de likes e comentários (emocionados e emocionantes). A autora da postagem foi a mãe, Haley McGuire, (@haley_mcguire_photo) que descreveu o vídeo com “Micah ? #autisim #speak #ohio #words #proudparents” (em português: o nome do menino, autismo, fala, Ohio (estado), palavras, pais orgulhoso).
Aquisição de fala
Nas imagens compartilhadas, o garoto aparece repetindo os nomes dos familiares enquanto todos comemoram a cada palavra correta, como se fosse um gol em final de campeonato. “Já faz um dia e meio e tudo o que pedimos a ele para dizer, ele está repetindo!”, disse a mãe ao site Razões para Acreditar.
Micah ainda não usa a fala para se comunicar, só repete o que pedem a ele. Mas foi exatamente isso que aconteceu com meu filho, Giovani. Com um pouco mais de 3 anos e meio, começou a repetir palavras que pedíamos a ele. Mas nada de falar espontaneamente. Depois de completar 4 anos, começou a usar a fala para se comunicar efetivamente. Isso é parte do processo de aquisição de fala de alguns autistas. A ecolalia (repetir palavras ou frases ouvidas anteriormente) é outra fase que pode preceder a fala — há, inclusive, uma charge sobre isso com o André, o personagem autista da Turma da Mônica (veja aqui).
Em mais uma missão da Nasa em parceria com a SpaceX, Alysson Muotri envia a segunda etapa de sua pesquisa para a Estação Espacial Internacional
Com lançamento do foguete da SpaceX programado para o próximo dia 5 de dezembro (2020), o neurocientista brasileiro Alysson Muotri envia para a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês para International Space Station) a segunda etapa da sua pesquisa com “minicérebros” (organoides cerebrais) em parceria com a Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos.
Doutor Muotri, que é cofundador da Tismoo, espera avançar nas descobertas já feitas na primeira etapa, quando enviou pela primeira vez na história, minicérebros para a ISS em julho de 2019 (veja nosso artigo aqui). “Desta vez temos dois objetivos: o primeiro é validar os dados da missão anterior, confidenciais. O segundo, visa entender o porquê da microgravidade ‘envelhecer’ os neurônios humanos. Estamos trabalhando com algumas condições experimentais para verificar se nossa hipótese se confirma ou não”, contou o neurocientista, que é destaque no site da Nasa.
Caso a hipótese de como acontece esse envelhecimento das células do cérebro no espaço se confirme, Muotri contou que isso mudaria muita coisa em sua pesquisa. “Em caso positivo, significa que conseguiremos envelhecer neurônios no espaço para poder estudar e entender uma série de mecanismos, que até então seriam impossíveis de se estudar. A pesquisa tem impacto tanto pelos interesses da Nasa, como viagens espaciais longas e colonização interplanetária; quanto aplicações em Terra, como modelar um cérebro mais maduro. Atualmente, nosso modelo sempre representa um cérebro embrionário fetal, mas poderemos pensar em modelar um cérebro como nos primeiros anos de vida, de 1 a 5 anos, algo fantástico, pois é justamente quando acontece o diagnóstico de autismo”, narrou o professor da faculdade de medicina da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA), com empolgação contagiante.
Evoluções
Quanto às evoluções dos equipamentos usados para esta segunda missão, houve um enorme trabalho de retaguarda envolvendo bioengenharia e alta tecnologia. O cubo autônomo da Space Tango, onde os minicérebros crescem, foi completamente redesenhado para ficar mais eficiente e acomodar mais organoides. Desta vez, ao invés de centenas, são milhares de minicérebros a caminho da ISS. “Agora, diferentes amostras podem ser coletadas e em diferentes períodos concomitantemente. Melhoramos também o software e teremos imagens muito melhores dos organoides que estarão na estação espacial, com fluorescência, reconstrução tridimensional no espaço… enfim, estou muito animado com tudo isso”, comemorou o biólogo brasileiro Alysson Muotri.
Equipe da Space Tango fazendo as últimas checagens nos “cubos” que abrigarão os organoides cerebrais do Muotri Lab.
A missão CRS-21 deve zarpar no dia 5 de dezembro de 2020, às 11h39 EST (horário da costa leste dos EUA), 13h39 no horário de Brasília, direto do complexo de lançamento 39A do Centro Espacial Kennedy da Nasa, no Cabo Canaveral, Flórida (EUA) — o lançamento pode ser adiado para o dia seguinte, dependendo das condições climáticas do local. Esta será a 21ª vez que a SpaceX leva suprimentos e material de pesquisa para a Estação Espacial Internacional, em parceria com a Nasa.
Vídeo da Nasa
Veja, a seguir, Muotri explicando sua pesquisa no vídeo oficial da Nasa para esta missão espacial:
Com versões em inglês e português, a plataforma pretende impactar a vida de mais de 350 milhões de pessoas ao redor do planeta.
Uma startup fundada por brasileiros laçou, dia 16.nov.2020, a primeira rede social do mundo dedicada exclusivamente ao autismo e síndromes relacionadas. Fruto da sinergia entre a startup de biotecnologia Tismoo e da Revista Autismo, o aplicativo TISMOO.ME reúne ciência, tecnologia e informação de qualidade em um ambiente seguro. O processo de desenvolvimento envolveu, ao longo de 3 anos e meio, mais de 120 pessoas como médicos, terapeutas, educadores, cientistas, designers, profissionais de tecnologia, especialistas em conteúdo, além de autistas e seus familiares.
A ideia da plataforma é oferecer uma ferramenta para o avanço da chamada medicina personalizada: a estruturação dos dados de saúde. A falta de informação de qualidade e confiável a respeito de autismo é uma demanda latente em todo o mundo e, talvez, uma das principais causas para a dificuldade em diagnósticos e tratamentos mais precisos. Ainda mais quando se fala de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e outros transtornos neurológicos de origem genética relacionados, como: Síndrome de Rett, CDKL5, Síndrome de Timothy, Síndrome do X-Frágil, Síndrome de Angelman, Síndrome de Phelan-McDermid, entre outras.
Conteúdo de qualidade
A TISMOO.ME tem como objetivo compartilhar conteúdos de qualidade para os diferentes participantes deste enorme ecossistema, como, por exemplo, um artigo sobre comunicação alternativa para quem tem filho não verbal, ou um estudo sobre genética e fármacos a um médico especialista.
A startup tem entre seus cofundadores, o renomado neurocientista brasileiro dr. Alysson Muotri, professor da faculdade de medicina da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA) e um dos nomes mais respeitados da neurociência na atualidade. “A plataforma vai estimular muito a produção científica relacionada ao autismo, conectando grandes pesquisadores a autistas e familiares, fazendo o que hoje é muito difícil: encontrar autistas com o perfil correto para para cada estudo científico. Estou certo de que, aqui nos Estados Unidos, isso fará uma verdadeira revolução!”, explica dr. Muotri.
Para o médico neuropediatra dr. Carlos Gadia, cofundador da Tismoo, a plataforma “não é uma rede social comum, somente para fazer amigos. A TISMOO.ME surge para conectar as pessoas em prol da saúde, conectar médicos a terapeutas, a familiares a autistas”, ressaltou dr. Gadia.
“Utilizando de inteligência artificial (IA), aprendizagem de máquina e, uma robusta camada de segurança, a plataforma irá garantir a privacidade dos dados de cada um de seus participantes”, destaca Francisco Paiva Junior, CEO da TISMOO.ME.
Aplicativo
O aplicativo, compatível com iOS e Android, é gratuito e inicia a primeira fase apenas com convidados. São 2 mil pessoas que se cadastraram durante o ano de 2019. Já há uma lista de espera (no site www.tismoo.me) com mais de 5 mil pessoas aguardando a próxima etapa para fazer parte da rede social.
O lançamento aconteceu na noite da segunda-feira 16 de novembro de 2020, em uma live no Instagram @tismoo.me, às 20h00, com a participação do dr. Muotri, direto da Califórnia.
Vídeo da Live
Veja, no vídeo a seguir, como foi a live de lançamento:
Live realizada no Instagram @tismoo.me em 16.nov.2020, 20h00.
Saiba mais sobre a Tismoo.me no nestes nossos artigos:
[Atualizado em 19/11/2020: incluído o vídeo do lançamento]
Segundo o neurocientista, sabendo qual é o subtipo de autismo, sua mutação genética, é importante filiar-se a associação de pacientes dos EUA
O neurocientista brasileiro Alysson Muotri, professor da Universidade da Califórnia em San Diego (EUA) publicou recentemente em suas redes sociais a respeito de terapias gênicas, que estariam próximas de se tornarem realidade nos Estados Unidos e recomendando que famílias brasileiras com pessoas autistas, que saibam sua alteração genética, portanto seu subtipo de autismo, se filiem a associações norte-americanas. Fomos perguntar a ele detalhes dessa informação, numa entrevista por vídeo.
A postagem original dele foi a seguinte: “terapia gênica para autismo está se tornando uma realidade. Diversos subtipos de autismos são causados por mutações em um único gene. A introdução do gene correto nas células neurais é uma possível forma de reversão da condição. Os genes MECP2, CDKL5, SHANK3, SETD5, UB3A e FMRP já estão com protocolos bem encaminhados. Semana passada, nosso lab submeteu a patente de terapia gênica para o TCF4. Muitos outros estão a caminho. É importante fazer o sequenciamento genético (recomendo a Tismoo no Brasil). Achando-se o gene candidato alterado, filie-se a respectiva associação de pacientes nos EUA o quanto antes. Por serem raros, pacientes do mundo todo podem vir a ser recrutados em ensaios clínicos”.
Terapia gênica
Este tipo de terapia consiste na correção de um gene alterado através de modernas técnicas de edição genética, ou seja, “consertando” artificialmente uma mutação em um gene que causa uma doença ou condição de saúde. A técnica utilizada foi com a enzima Crispr-Cas9 (do inglês: Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats — em português: repetições palindrômicas curtas agrupadas e regularmente interespaçadas), uma tecnologia que permite copiar e colar o DNA. Para quem quiser entender a técnica, há um vídeo do canal Ciência Traduzida (quem quiser ver uma versão reduzida, assista de 3:12s a 5:50s) e o site G1 também fez um infográfico bem interessante explicando a técnica.
Para esclarecer diversas dúvidas, fizemos uma entrevista com o neurocientista.
Entrevista
Portal Tismoo — O que é exatamente uma terapia gênica?
Alysson Muotri — A terapia gênica consiste na correção de um gene alterado dentro de uma célula que causa uma certa condição [de saúde]. O autismo tem um fator genético muito forte e muitas das causas do autismo são monogênicas, ou seja, causado por alterações ou mutações em apenas um gene. Muitos destes subtipos de autismo, ao se conhecer mais das características daquele gene [alterado] e como ele leva àquele quadro clínico, acaba se transformando em uma síndrome. É o caso da Síndrome de Rett, causada por mutações no gene MECP2 e outras síndromes relacionadas. Esses subtipos de autismo são muito atraentes para terapia gênica, por serem decorrentes de um único gene alterado. Então, corrigindo esse gene, espera-se que as consequências moleculares, celulares e comportamentais sejam todas reversíveis.
Portal Tismoo — E funciona?
Alysson Muotri — Resultados pré-clínicos, ou seja, feitos em laboratórios. mostram a prova de conceito de que essas estratégia funciona, incluindo dados do meu próprio laboratório, mostrando que é possível uma reversão completa das alterações causadas pelo gene MECP2 alterado, em neurônios humanos. Isso também já foi demonstrado em modelos animais. Todos esses dados estão sendo apresentados ao FDA (Food and Drug Administration — agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos). Em geral, é uma Indústria farmacêutica que tem o suporte, para bancar um ensaio clínico e que acaba liderando essa proposta. A indústria licencia a tecnologia das universidades, junta toda a informação pré-clínica existente num pacote e apresenta ao FDA, que é a agência que irá verificar se há condições e suporte científico suficiente para que a tecnologia seja testada em humanos.
Portal Tismoo — E essa “correção” pode ser feita no cérebro de uma pessoa?
Alysson Muotri — A forma de você fazer a correção genética é mais fácil em tecidos que são de fácil acesso, como a pele ou sangue. No caso do autismo o tecido afetado é o sistema nervoso — óbvio que outros também estão, mas a parte comportamental, de linguagem e social, é afetada pelo sistema nervoso — e o cérebro, diferentemente de outros tecidos, está protegido pela caixa craniana. Portanto, fazer a correção genética nas células humanas neurais é problemático, por não termos esse acesso. Para isso, utilizamos partículas virais. Existem uma série de vírus neurotrópicos, ou seja, são que atraídos por células do sistema nervoso. Manipulamos esses vírus em laboratório para carregar o gene correto e penetrar no sistema nervoso humano, infectando as células do cérebro e fazendo a correção genética. Essa estratégia.
Portal Tismoo — Essa é uma técnica que já se domina?
Alysson Muotri — Essa técnica é antiga e tem sido dominada pela indústria da biotecnologia há bastante tempo, com alguns casos de sucesso, mas ainda muito poucos no sistema nervoso. Obviamente, isso tudo tá muito mais avançado nos Estados Unidos , onde há uma cultura de inovação e tecnologia muito forte. O Brasil, por não investir nessa área, acaba sendo um consumidor desta tecnologia. Por conta disso, pagaremos um preço alto.
Portal Tismoo — Quais os próximos passos?
Alysson Muotri — Essas empresas [da indústria farmacêutica] que que têm essa tecnologia, conseguindo aprovação do FDA, organizam ensaios clínicos, ou seja, recrutam pessoas com mutações em genes específicos para que os testes clínicos sejam feitos. São os testes clínicos que vão indicar se realmente a terapia gênica vai ser efetiva ou não para aquele determinado gene. Isso está sendo discutido atualmente para Síndrome de Angelman e de Rett. Mas há uma série de outras síndromes do espectro do autismo, com outros genes alterados, que estão a caminho. Temos caminhado muito rápido nessa direção, mas alguns genes estão mais para trás, pois são pouco conhecidos. Há também uma questão também do tamanho do gene. Se o gene é muito grande, não cabe dentro das partículas virais. Genes menores têm maiores chances de prosperar. Essa série de fatores influenciam no porquê alguns genes estão mais avançados do que outros. As empresas [que lideram os testes clínicos] vão atrás de bancos de dados ou de organizações que concentram pacientes, pois obviamente são muito raros, já que as mutação que causam o autismo são muitas, para recrutar pessoas para participar dos ensaios clínicos.
Portal Tismoo — E como saber qual é a mutação genética para poder participar desses testes clínicos?
Alysson Muotri — A única forma de saber é através do sequenciamento genético, um tipo de exame genético. O sequenciamento é diferente de um microarray ou cariótipo, que acusam alterações mais grosseiras no genoma. O sequenciamento faz a leitura individual de cada letrinha do DNA, para identificar qual seria o gene alterado. Há dois tipos principais de sequenciamento genético: o do exoma e o do genoma completo. O sequenciamento do exoma faz a leitura de genes com maiores chances de você encontrar um defeito, que é mais ou menos 1% do genoma todo. O sequenciamento completo do genoma não olha só para 1%, olha para 100% do genoma e faz a leitura completa, independente daquele gente ter mais chances ou menos chances de estar mutado.
Portal Tismoo — E por que filiar-se a associações de pacientes nos Estados Unidos?
Alysson Muotri — Uma vez que você sabe qual o gene, recomendo se associar a essas associações internacionais. O nome da pessoa que tem autismo e sua mutação tem que estar no banco de dados dessas associações, facilitando o trabalho de recrutamento pela indústria farmacêutica. Isso já acontece bastante nos EUA. E, obviamente, como o exame genético não é tão comum fora dos EUA, ficamos assim atraentes se formos um país com maior controle da informação genética dos nossos pacientes.
Se você não fez um exame genético e, portanto, não sabe qual seu subtipo de autismo/variante genética, lei este nosso artigo: “Qual exame genético é mais indicado?“
Vídeo da live ficou gravado no Instagram e tem diversos esclarecimentos sobre os benefícios do mapeamento genético para o TEA
Uma live muito esclarecedora aconteceu no Instagram, na manhã do último dia 6 de novembro de 2020. A jornalista Fátima de Kwant, brasileira radicada na Holanda há mais de 20 anos e mãe de autista, convidou a cofundadora e diretora-executiva da Tismoo, Graciela Pignatari, bióloga com mestrado e doutorado em biologia molecular, para falar sobre mapeamento genético
Fátima, que, ao lado do apresentador Marcos Mion, é administradora do maior grupo de Facebook de uma comunidade ligada ao autismo — a “Comunidade Pró Autismo“, com mais de 240 mil membros —, fez um live abordando o tema da genética e dos exames de mapeamento genético para o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).
“Tive o privilégio de participar de uma análise pós-sequenciamento, e fiquei encantada com o tratamento que a Tismoo deu à família do autista, respondendo a todas as perguntas com eficiência, atenção e carinho. Espetacular!”, contou a mãe jornalista, a respeito da sua experiência de ter participado, alguns dias atrás, de uma consulta de pós-teste da Tismoo (coisa que nenhum outro laboratório faz!), depois do exame de uma amiga. Isso foi o que despertou o interesse em convidar a bióloga para uma live.
Benefícios
Inúmeros benefícios de se fazer um exame genético em um laboratório especializado em autismo foram citados na live, seguem alguns tópicos e, em qual ponto do vídeo da live está cada um deles:
A importância de saber a etiologia, a causa do autismo daquela pessoa, além disso é possível dizer ainda se a alteração encontrada foi herdado ou não e quais os riscos ligados ao autismo para o restante da família (aos 0:08:21s do vídeo);
Ajudar no diagnóstico, sobretudo na segunda camada do diagnóstico, como síndromes ou outras condições de saúde associadas ao autismo que ainda não foram diagnósticas — ajudando, inclusive, na formação de grupos de famílias com as mesmas mutações genéticas para se ajudarem mutuamente (aos 0:9:19s);
Estratificação de pacientes, a divisão de grupos de pacientes conforme suas alterações genéticas, para organizar e estimular pesquisas científicas direcionadas para cada subtipo de autismo, o que já é uma realidade fora do Brasil — veja informações no Simons Search Light (0:11:50s);
Avaliação de risco de outros casos de autismo ou síndromes na família — e até mesmo levantar suspeita de outras questões psiquiátricas nos pais ou outros parentes —; e, neste tópico, Graciela explicou do modelo de copo, que representa o modelo para elucidar a genética do autismo (0:14:45s);
Além do papo descontraído entre as duas, e uma verdadeira aula sobre o assunto, Graciela também respondeu perguntas da audiência, como, por exemplo, quais são os fatores ambientais de risco de autismo (0:33:27s) — como a idade paterna (acima de 45 anos), a síndrome metabólica materna relacionada a questões de obesidade, diabetes gestacional, o uso de ácido valpróico como fator de risco, além de: baixo peso ao nascer, prematuridade, hipóxia neonatal (falta de oxigenação no cérebro), curto intervalo entre gestações, ter outros irmãos autistas, infecção durante a gestação, entre outros. Outro fator que impressionou Fátima foi o aumento do risco de ter outros filhos autistas pelo fato de ter uma primeira filha (mulher) com autismo.
Após uma explicação rápida sobre os tipos de exames de mapeamento genético (0:45:03s), Fátima de Kwant convidou Graciela para uma próxima live que acontecerá no final deste mês — dia 27.nov.2020, às 11h00 da manhã — só para falar deste assunto. Com mais lives como esta, quem ganha é sempre o público! ?
Vídeo da live
Assista ao vídeo completo da live, que ficou gravada no Instagram da Fátima de Kwant (@fatimadekwant):Outras lives
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